sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Nossa percepção do mundo



O ditado "a ignorância é felicidade" pode ser facilmente ser provado como errado ao percebemos que a nossa civilização têm um maior nível de conforto material fornecido pelas últimas conquistas tecnológicas, nossa expectativa de vida é muito maior do que a dos nossos antepassados, estamos viajando por todo o mundo e estamos nos divertindo muito, isso tudo porque os nossos cientistas sempre encontraram prazer em descobrir cada vez mais.




Lisa Simpson provou estar errada quando disse "Quando a inteligência cresce, a felicidade desce. Veja, eu fiz um gráfico. "Os Simpsons, episódio 257"HOMЯ".

read this article in English

Assim sendo, a chave para o nosso desenvolvimento está no conhecimento do mundo que nos rodeia. Cada animal no planeta tem ferramentas diferentes para estes fins; esses "órgãos dos sentidos" variam muito de animal para animal e proporcionam-lhes diferentes interpretações.

Como é que um verme de um milímetro perceber o mundo ao seu redor?

Sabemos que temos uma percepção muito melhor do mundo ao nosso redor do que um verme - a questão é - são os nossos sentidos a melhor ferramenta para entender o mundo?

Talvez fenômenos estranhos, como a manifestação de fantasmas, aparições de OVNIs e precognição são meros eventos naturais, que nossos órgãos sensoriais, juntamente com o discernimento de nosso cérebro não nos permitem entender.

Um cão não tem idéia da enorme quantidade de informação que existe em uma biblioteca e pode interpretar a um tiro de espingarda como a "ira dos deuses humanos". E um verme então, este não faz a menor idéia do que seja uma ponte.

Talvez quando encontramos um ser vivo muito mais avançado e perguntarmos a ele sobre fantasmas e OVNIs, sua explicação seria extremamente difícil para nós entendermos. Podemos ter a mesma dificuldade de entender suas explicações como um cão tentando aprender a projetar e construir uma ponte usando software avançado e tecnologia de última geração.
Sebastian Stoskopff, L'été ou Les cinq sens - July 13, 1597 – February 10, 1657).

A consciência humana ainda esta num estágio "experimental" - é uma aquisição muito recente da natureza. A vida começou na Terra há 3,5 bilhões de anos, mas só ficamos conscientes a cerca de 6000 anos atrás (se tomarmos a escrita como primeira manifestação de consciência ). Este é um assunto pouco abordado pela ciência, pois o misoneísmo nos faz buscar consolo na religião, que nos da uma maior sensação de conforto.

Existe em nosso planeta um animal que pode nos ajudar melhor a compreender como interagimos com o nosso universo, em 1963, Sydney Brenner propôs que o pequeno nemátodo chamado Caenorhabditis elegans deveria ser considerado o perfeito modelo de organismo para a investigação científica de desenvolvimento animal e de comportamento. Com cerca de 1 mm de comprimento, os C elegans não são parasitas, são seres de vida livre, passam 14 horas como embrião, vivem no solo e se alimentam de bactérias. Foram os primeiros organismos multicelular que os cientistas conseguiram seqüenciar os códigos genéticos por inteiro.

C. elegans tem dois sexos: hermafroditas e masculino. Um hermafrodita produz espermas quando está em seu estágio larval e gera óvulos em estágio adulto. Um macho só pode produzir esperma. Os machos são um pouco menores do que os hermafroditas.
a faixa de percepção eletromagnética que temos é extremamente pequena

A percepção de que um Caenorhabditis elegans tem do mundo é muito mais simples do que a nossa. Enquanto este verme tem apenas o sistema somato sensorial, os seres humanos têm os tradicionais cinco sentidos de Aristóteles; ouvimos 20hz 20,000 Hz, enxergamos 400-790 THz (é bom que se diga que a faixa de percepção eletromagnética que temos é extremamente pequena, veja gráfico comparativo acima) temos o sentido do olfato, tato e paladar, e alguns outros, como nocicepção (dor ); equilibriocepção (equilíbrio); propriocepção e cinestesia (movimento articular e aceleração); sentido de tempo; termocepção (diferenças de temperatura) e, possivelmente, uma magnetocepção adicional fraca (direção), e nós temos um cérebro muito sofisticado para analisar todos esses dados.

O processo de percepção começa com um objeto no mundo real, denominado o estímulo distal ou objeto distal. Por meio de luz, som ou outro processo físico, o objeto estimula os órgãos sensoriais do nosso corpo. Esses órgãos sensoriais transformam essa energia de entrada em atividade neural - um processo chamado transdução. Este padrão bruto da atividade neural é chamado de estímulo proximal. Estes sinais neurais são transmitidos para o cérebro e processados. A recriação mental resultante do estímulo distal é a percepção. Percepção às vezes é descrita como o processo de construção de representações mentais de estímulos distais, através de informações disponíveis nos estímulos proximais.

O Caenorhabditis elegans tem cerca de 302 neurônios no cerebro/todo sistema nervoso, com ~ 5000 sinapses (Os seres humanos têm cerca de 85.000 milhões de neurônios no cérebro/todo sistema nervoso, com ~ 1014-1015  sinapses).. O sistema nervoso é, de longe, o órgão mais complexo do C. elegans, cerca de um terço de todas as células do corpo (302 de 959 no adulto hermafrodita para ser preciso) são neurônios. 20 desses neurônios estão localizados dentro da faringe, que tem seu próprio sistema nervoso.

C. elegans não tem olhos, mas eles são afetados pela luz ultravioleta através de seu corpo transparente, eles devem reagir à radiação, a fim de não serem expostos a ela.

Os animais mais complexos têm intrincados sistemas de percepção que respondem a muitas características diferentes de seu ambiente - insetos, apesar de seus olhos impressionantes, são mais sensíveis a rastros de produtos químicos; morcegos são cegos para a luz, mas respondem a pulsos de sonar, cães e porcos depender mais de cheiro do que a visão para a detecção do mundo.

Animais não-humanos podem possuir sentidos que estão ausentes nos seres humanos, tais como eletrorreceptividade e detecção de luz polarizada.

Muitos animais (salamandras, répteis, mamíferos) têm um órgão vomeronasal que está conectado à cavidade bucal. Nos mamíferos é usado principalmente para detectar feromônios para marcar seu território, trilhas e estado sexual. Répteis como cobras e lagartos fazem uso extensivo deste como um órgão de recepção olfativa através da transferência de moléculas de aroma para o órgão vomeronasal, tendo as pontas da língua bifurcada. Nos mamíferos, é muitas vezes associado a um comportamento especial chamado Flehmen caracterizado pela elevação dos lábios. O órgão é vestigial em humanos, pois não foram encontrados neurónios associados a este, logo não proporcional qualquer entrada sensorial em seres humanos.
Cães não vão a bibliotecas para ler, vermes não constroem pontes e o homem ainda crê que diversos fenômenos naturais são sobrenaturais. Todos nos temos limitações de percepção e consciência

Quais deveriam ser os próximos passos para a evolução dos seres humanos

O ponto de partida para avaliar o que nos faria mais inteligentes seria, melhorando o nosso cérebro. Mas os cientistas insistem em dizer que o tamanho do canal de nascimento é o fator que em última análise limita o tamanho do nosso cérebro. Para isso eu tenho a resposta apropriada:
Da mesma forma que órgãos como os pulmões e o coração estão protegidos por uma armadura óssea chamada de caixa torácica, que é deformada no momento do nascimento, permitindo a passagem pelo canal do parto e então retornando ao normal, o cérebro poderia estar dentro dessa mesma estrutura (se esta alteração morfológica acontecesse, nós nos pareceríamos com  Blêmias - rsrsr).

Mas qual benefício teríamos se tivéssemos um cérebro maior? - Eu acredito que a modificação mais importante seria na nossa comunicabilidade, já que a nossa necessidade social deverá ser muito maior.

Segundo o Dr. AK Pradeep, em seu livro "O Cérebro Consumista: Segredos para vender para a mente subconsciente", recebemos uma quantidade enorme de informações em nossos cérebros, mas temos grande dificuldade de processá-las de forma consciente e uma dificuldade ainda maior para comunicá-las.

Dr. Pradeep diz que nós recebemos cerca de 11 milhões de bits através de nossos sentidos, mas apenas processamos conscientemente cerca de 40 bits por segundo.

E quando temos que contar uma experiência recebida em nosso cérebro, temos que traduzir estes bilhões de bits em poucas palavras, tarefa extremamente sintética que permite que milhões de informações sejam omitidas e também permite erros e ruído de comunicação.

Assim, o nosso próximo passo na resposta evolutiva seria 'Homo blemmyae'. Em seu grande cérebro teria bilhões de organelas de transmissão e recepção neuronal, e dessa forma, seria capaz de praticar telepatia.
Blemya Talk Show - Talvez monstros como a Blemya nos faça compreender melhor os monstros como a Blemya.
Uma vez que podemos interagir diretamente na mente de nossos semelhantes, a falta de confiabilidade seria eliminada, a sensação de dor de nosso companheiro nos afetaria diretamente, portanto, eliminaríamos todas as coisas que causariam sofrimento aos outros, tais como corrupção, traição , etc. Também eliminaríamos a pobreza, a indiferença e a fome, já que não queremos sentir os efeitos desses males emitidos por alguém próximo a nós.

Esta seria chamada a era do "Homo blemmyae collectivum '.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Lenda da Praia da Sununga e da gruta que chora

A índia Potira se encantou com a serpente da gruta da Sununga


Lendas da Sununga e da Gruta que Chora

A Praia da Sununga e também a gruta chora e despeja suas gotas de água sobre o visitante que grita sempre mexeu com o imaginário de seus visitantes. As lendas que cercam esta gruta tem em comum a figura de uma enorme serpente que emite um estridente barulho - Cyninga em Tupi-Gurani antigo, modificado para Sununga nos dias de hoje significa forte e estridente barulho, talvez o barulho emitido pelo animal mítico.
A primeira lenda da Sununga foi contada pelo historiador Francisco Martins dos Santos em artigo no jornal santista A Tribuna, em 7 de janeiro de 1951, página 17 (2º caderno), com ortografia atualizada nesta transcrição:

A gruta que chora

A casa do Zé do Barro estava cheia de luzes naquela noite morna de agosto. Sanfonas e violas gemiam lá dentro e parecia que toda a gente do Itaguá, do Tenório, da Praia Grande, das Toninhas e dali, da Enseada, comparecera aos fandangos daquele ano.

Os cantadores do Divino já se haviam ido para os lados de Santa Rita, mas o redeiro emendara Folia aproveitando o pretexto.

- Disgraça pôca é bobage... o pêxe tá dando... sêo Macié tá comprando... bamo bebê... bâmo dançá minha gente!...

Era um filósofo o Zé do Barro, e aquele rancho grande, logo atrás da praia, entre aglomerados de abricós e cajueiros, com suas varandas largas em torno e suas janelas sempre abertas, claro, alegre, cheio de flores e de passarinhos, era bem o seu retrato de caiçara risonho e amigo de todo mundo.

Um cheiro bom de ubatubana corria pela casa e saía lá fora, entre o estrupido da arrelia e o estrepitar das canecas.

Zé do Barro não parava, e ria, e falava com um, com outro, animava os músicos, atirava piadas aos amigos, brincava com as damas e não se esquecia de uma talagada de vez em quando. Era um pai da vida, que se alegrava com as alegrias alheias. Seus olhos deram no Antonio Laurindo de Santa Rita:

- Antonio Laurindo! O dotô que vai pra Sununga tá hí... Bâmo pra ele uma dança de S. Gonçalo que ele qué bê! Cadê o Parú? Esse capeta que puxe a gente!...

O doutor Avelino, visitante de São Paulo, lá estava de fato, na varanda da frente, debruçado na janela, a atiçar o Zé do Barro com olhares de lembrança, no sentido da dança que não conhecia.

Dali a instantes, Antonio Laurindo e o Parú, tocados pelo seo Renê, um francês-caiçara do Taguá, apareceram no meio da sala, serenando a arrelia e arrumando os pares e as coisas para a gonçalina. A imagem do santo logo surgiu, trazida lá do fundo do rancho, enfarruscada, como se viesse do fumeiro, e pouco depois aparecia num dos cantos da sala, sobre um soco improvisado, para presidir à função.

A dança começou com a cantoria de sempre e os pares em desfile e cumprimentos rasgados, de busto inteiro, diante do santo:

Indios Tupis a bordo de um Ubá - tipo de canoa feita de um tronco de árvore.

São Gonçalo d'Amarante...
São Gonçalo d'Amarante...
Casamenteiro das velhas
Casamenteiro das velhas... âããhhh

Por que não casais as moças...
por que não casais as miças...
Que mal bos fizeram elas
Que mal bos fizeram elas... ãããhhh

Oh meu São Gonçalo
Meu São Gonçalinho
Que come o meu pão...
Que bebe o meu binho...

O doutor Avelino se divertia com o canto fanhoso da caiçarada foliona, com os remelexos e bamboleios dos pares, o zangarreio das violas e, por fim, a agitação das umbigadas, na fase aguda da dança tradicional.

Uma voz chamava o visitante:

- Sô dotô... Sô dotô... Pra que hora quereis a canoa aminhâ?

Doutor Avelino voltou-se; era o remeiro do Maciel, o dono das canoas "de frete".

- Logo cedo, às sete, seo...

- Puruba sim sinhô, pra bos sirbi!

- Pois é, seo Puruba, às sete está bom... mas diga ao seo Maciel que mande junto aquele camarada que conhece a história da gruta que nós vamos ver, entendeu?

- Sim sinhô, sô dotô... aquelezinho que conhece é meu mano, sabeis? Ele é que é o Puruba de berdade... - e o praiano desapareceu em seguida, nas sombras do pequeno bosque.



Zé do Barro, estabanado, a oitenta graus de pressão da ubatubana, chegava naquele instante junto a janela da varanda.

- O sinhô gostô do S. Gonçalo, dotô?

- Se gostei, meu amigo; seu pudesse eu viraria caiçara como vocês... A vida é muito mais bonita onde e como vocês a vivem...

Doutor Avelino falava como quem estivesse saturado do grande meio e seus olhos tinham lampejos de inveja cheia de esperança. Zé do Barro ficou ainda mais amolecido com as palavras do doutor, e enquanto este se retirava para descansar, ele ficava ali mesmo, debruçado na janela, os olhos muito abertos para a noite, para o mar, para o céu, vendo tudo irisado pela inspiração alcoólica, ouvindo vozes aveludadas sobre as águas e pelo espaço sideral.

Pela note a dentro foi indo o fandango bulhento, do praiano feliz que tinham um rancho, uma rede de pescaria, uma janela para olhar a natureza trescalante, e um coração para sonhar...

No dia seguinte, bem cedo, lá estava o doutor Avelino à frente do seu pequeno bando, fazendo hora na praia, olhando o mar manso, espelhado, enrubescido do primeiro sol, a brincar com os pés nas maretas, a revolver as conchas na areia, a enamorar-se daqueles horizontes, daquelas serras virgens e daqueles aromas matinais que um ligeiro pitiú de certas luas não chegava a anular, pensando outra vez, que a verdadeira vida estava ali, entre aquela gente e naqueles lindos lugares.

Havia no dorso da praia um exército de canoas de todos os tamanhos, as proas levantadas sobre rolos, apontando o infinito.

Momentos depois, a guaperubú do Manciel rompia a maré, para o largo da Enseada do Flamengo, a rumo do Saco da Ribeira que se pintava ao longe, ao fundo daquela concha de terra verde, ao grasnar dos carapirás em vôo baixo ao saltarelhar vagabundo das tainhas.

Do Saco da Ribeira para a Sununga foi um arranco de quinze minutos a pé, pela vereda de arenito toda bordada de aleluias e, por fim, a visão dadivosa e mansa da baía da Fortaleza, com seu recorte de cromo e uma rampa de areia deslumbrante de brancura, onde os pés se enterravam - num atrito de alpaca de seda, a famosa Sununga.

Ao canto, bem ao fundo daquele imenso lençol de areia solta inclinar-se para as ondas bulhentas, lá estava a gruta encantada, que a voz do tempo apelidara "A Gruta que chora".

A imaginação do doutor Avelino desatou-se em arroubos, diante da pequena caverna lendária, que o trouxera de longe para o transporte emocional do misterioso e do desconhecido. Ansiava por fazê-la chorar, por ver aquelas lágrimas de prata que a tradição dizia verterem do alto da lapa ao soar de gritos humanos. Ele avançara sozinho, precipitando os passos, para ser o primeiro a colher a emoção do fato estranho, e, já da ponta da pedras laterais, que avançavam como braços de esfinge para dentro do mar, levantou a voz em palavra a esmo:

- Chora! Ei! Vamos! Chora!

Quando os outros chegavam, começava o espetáculo da natureza; caíam na areia grossa da boca da caverna, em toda a sua largura, as primeiras gotas cristalinas, como em princípio de um pranto. Doutor Avelino continuou a gritar, e as lágrimas foram amiudando e engrossando, caindo em abundância de cada ponta de folha, de cada epífita suspensa, de cada ruga de pedra da fronteira rasgada em arco.

Houve em seguida um silêncio de meditação; sentaram-se todos à entrada daquela boca de pedra aberta para o oceano, e entre eles e o azul escandaloso do céu ensolarado, passava a cortina de lágrimas, em cambiâncias de cristal de boêmia. Confirmava-se a tradição, para encanto do espírito exaltado do doutor da cidade, e o silêncio dos visitantes era o retrato da sua imaginação traumatizada ao contato do mistério.

Foi o Puruba, em sua inconsciência de simples, quem interrompeu o recolhimento dos visitantes:

- Tá vendo, sô dotô? Bunito, não? Mais a história é muito mais bunita...

E foi assim, sob o assentimento do doutor Avelino, acordado ao som metálico daquela voz, que o Puruba, ajudado às vezes pelo irmão, o remeiro do Maciel, desenrolou de novo a história velha que já contara a tanta gente.

***
Naquele tempo a Enseada dos Miramomis era quase virgem do homem branco; quase, porque os franceses chegavam por ali de vez em quando - os coaraciabas - amigos que eram dos tupinambás. Iperoig era então o reino exclusivo dos homens de bronze da taba de Aimberê e Coaquira, senhores de Ubatuba, uma esmeralda grande a encastoar-se no anel das águas da enseada.

Além, a dez quilômetros de distância, na várzea da Sununga, ficavam as ocas de Coaquira, ao alcance regular das ubás de Iperoig e do som costumeiro dos trocanos da sede, repetido nas ocas intermediárias.

Potira, a virgem tamoia, filha de Coaquira, estava noiva de Jagoanháro, jovem guerreiro, e o casamento deles seria ao fim de "duas luas".

Havia a pairar sobre aquele povo dois motivos recentes de tristeza e inquietude - a caçada intermitente de suas mulheres, realizada pelos portugueses de Bertioga, e um castigo de Tupã, o aparecimento da "cobra grande", um monstro de olhos verdes que chispavam fogo, no costão da Sununga, perto das ocas de Coaquira, vinda da Guãxima, ao que diziam, levantando ondas na passagem.

Afirmavam alguns índios pescadores que o rabo do monstro ferira sete vezes a terra, na ponta do pequeno promontório, e sete fontes haviam brotado do chão ferido. Seguira a serpente enorme para diante, rabeando sobre as águas e chegara às areias da proximidade do sítio de Pindobussú. Ali chegando, a cauda imensa do monstro ferira a rocha, abrindo nela uma gruta profunda, onde ele se aninhara. Naquele instante a terra subira, o mar se refrangera e avançara de nvo, invadindo a gruta numa explosão de raiva, recuando outra vez a um rugido espantoso da "cobra grande".

Tão grande fora o duplo ronco e tão despropositado naqueles lugares que, ao longe, a indiada de Coaquira gritara assustada, correndo para a praia, a ver o que acontecera

- Pará cyninga! (cyninga – ruído forte)

Viram todos então, sem compreender, o fenômeno da costa refrangida, a praia em rampa, o mar embravecido onde fora sempre remançoso e calmo, como o próprio lugar.

Apenas dois ou três tamoios que pescavam àquela hora tinham visto a "cobra grande" e mostravam aos outros a gruta que não existia anteriormente e onde ela se internara.

Os pajés da tribo, a sacudir seus maracás sagrados, pressagiavam desgraças para breve e para quem se aproximasse do bicho.

E dali por diante, nas luas cheias, uma cunhatã tamoia desaparecia das ocas, sem que ninguém visse como desaparecera, vendo todos apenas, pela madrugada, um rastro enorme e grosso que se prolongava pela areia, na direção da gruta.

Pensou Coaquira, embora ferido em seu orgulho, em abandonar aquelas terras onde nascera e onde fora sempre feliz, mudando-se para a Maranduba, mais além, a salvo do monstro que acovardava os seus guerreiros e que ninguém queria combater.

Naqueles dias, caçadores portugueses, pelo menos ao que diziam, de novo aprisionaram diversas cunhatãs tamoias de Malembipe e os trocanos soavam, falando a linguagem da guerra. Aimbirê e Pindobussú reuniam as tribos para um movimento geral dos tupinambás de toda a costa vicentina contra os peros, os portugueses de Bertioga, fazendo esquecer em parte os fatos da "cobra grande".

Foi naquela altura que dois abarés dos peros chegaram a Iperoig para apaziguá-los, afirmando-lhes que os portugueses não eram culpados, que eram os franceses que roubavam as suas mulheres, para lhes dizer depois que foram os portugueses e atirar contra eles a vingança dos tupinambás. Vinham os pai-abunas para lhes propor uma paz de fato ou mais do que isso, uma aliança, afirmando-lhes que assim determinara o seu Deus, que era mais forte do que Tupã.

Um movimento de ódio e temor pincelado de curiosidade arrastara índios e índias para junto dos dois padres, ameaçando-os de morte pelas intrigas dos pajés.

Chegara então a lua cheia e os pavores de Coaquira se renovaram. Uma cunhatã decerto desapareceria para sempre do seu povo, sem reação e sem defesa, e isso o desesperava. Estava o chefe a parlamentar com Pindobussú sobre as coisas da guerra e a presença dos abarés, quando um mensageiro, cheio de terror, veio lhe dizer que Potira, a sua filha, fora carregada pela "cobra grande".

À notícia cruel, Coaquira e Jagoanháro precipitaram-se, loucos de raiva e de dor, para as ocas distantes.

Ia muito avançada a madrugada quando eles chegaram, e Jagoanháro pôde ver apenas, na entrada da gruta do monstro misterioso, um rastro de sangue sobre a areia branca, que uma réstia de luar ainda mais alvejava.
Desesperado, o guerreiro tupinambá investiu pela caverna, aos gritos de Coaquira e dos outros companheiros. Um ronco enorme soou em seguida, na garganta escura da gruta, seguido de um grito lancinante, e depois o silêncio, um silêncio de morte assombrado pelo luar.

Os homens de Coaquira desertaram ouvindo o ronco, e o morubixaba amarrado ao lugar, como um daqueles guanandis da várzea, pela primeira vez teve vontade de chorar, ao sentir-se sozinho, frágil como criança, acovardado como uma mulher, incapaz de levar a cabo o socorro à filha que queria tanto e a Jagoanháro, que em breve devia ser seu filho e futuro chefe em seu lugar, destroçado em seu orgulho de rei que já não poderia reinar.

Pindobussú ameaçou céus e terras quando soube da morte de Jagoanháro, devorado pela "cobra grande", e jurava enviar uma legião de ubás para dar combate ao monstro. Um pajé veio dizer-lhe, então, que tudo seria inútil, e que se aqueles padres eram mesmo santos, e se o seu Deus era mais forte do que Tupã, como dizia, eles que dessem uma prova disso naquela contingência, libertando o povo tupinambá da estranha serpente surgida nas terras de Coaquira. Se assim acontecesse é que seriam mesmo santos e seria o seu Deus maior do que Tupã, porque, de outra forma, acender-se-iam desde logo as fogueiras que deviam assá-los para o banquete.

Nóbrega e Anchieta, pois que eram eles os abarés dos portugueses, aceitaram o desafio dos pajés de Pindobussú e se foram, em expedição, ao lado dos morubixabas tupinambás e uma legião dos seus guerreiros, enquanto os pajés ficavam em sua poracéia bárbara, prelibando o fracasso dos peros.

Rompia a manhã no lado dos céus de Picinguaba, quando a tribo inteira de Coaquira, com seu chefe e os tuchauas de Iperoig, tendo os dois padres à frente, se apresentaram diante da gruta da "cobra grande".
Padre de Anchieta para em frente a gruta e branda: - Apresenta-te em nome de Deus!

Manoel da Nóbrega ia avançar quando Anchieta colocou-se adiante dele e avançou rapidamente para a caverna, a mão alçada no ar, bradando:

- Apresenta-te em nome de Deus! Em nome de Deus!

Um rugido pavoroso irrompeu do fundo da garganta escura e chispas de fogo fuzilaram de dois olhos verdes. A pedra tremeu a uma convulsão do monstro, e, subitamente, uma cabeça enorme surgiu à luz da manhã, avançando para o pequeno e frágil pai-abuna.

A indiada, transida de medo, comprimia-se lá fora, amparando-se mutuamente para não fugir, assombrada ante a coragem daquele homem magro, pálido e de roupagem negra, que num supremo desprezo à vida, ainda protegia o companheiro.

Outro rugido imenso feriu o silêncio daquele instante supremo, e a cabeça do monstro projetou-se sobre o padre, mas, naquele momento, o abaré dos portugueses, enfrentando a sua fúria, suspendera no ar a cruz do seu Deus, que arrancara do peito, e, então, diante de toda aquela gente bárbara houve um estampido enorme, enquanto uma densa nuvem de fumaça, tresandando a enxofre, envolvia a cena.

Ao dissipar-se o fumo, lá estava o padre imóvel, no mesmo lugar, como uma figura de pedra negra, a mão alçada no espaço e nela o crucifixo, mas a "cobra grande" desaparecera para sempre, deixando revolvida a areia e entulhada a garganta onde se escondia e onde para sempre ficariam Potira e Jagoanháro, unidos no noivado eterno da morte.

- Anhanga! Anhanga! - bradavam os tamoios na beira da praia.

- Potira! Potira!... - gritava Coaquira, diante da caverna, enquanto Pindobussu curvava a cabeça para o chão, em sinal de respeito, curtindo em silêncio a sua dor serena.

E, naquele instante, viram todos que, aos gritos do morubixaba tupinambá, vertia a gruta lágrimas abundantes, chorando como um ser humano, como se caissem dos seus olhos, lá de cima, um chuveiro de lágrimas ardentes.

***

O Puruba terminava a sua descrição:

- Esse bicho, sô dotô, era o capeta... As sete fonte, onde ele bateu co rabo sete vêis, tão lá, mais prá riba, prá ponta dessa costera... Este má que era manso como o má de Santa Rita, ficô brabo e co essa sununga, esse ronco que vai longe e que ficô dando nome ao lugá. E essas lágrima, sô dotô, podeis crê, é da índia noiva, que o bicho incantô e que tá incarnada nesta gruta; é o choro da moça, quando ôve a vois de arguém, e pensa que é do noivo ou que é do pai, gritando disisperado pur não podê li sarvá...



A segunda lenda da Serpente Sununga



Graciosa jovem de tez suavemente morena, olhos cinza esverdeados, farta cabeleira negra e ondulada, porte esbelto e curvas caprichosamente delineadas, Marcelina, até então alegre, forte e viva, de repente pareceu aniquilar-se, alimentando-se mal, perdendo as cores, visivelmente tímida, quase sem ânimo para as tarefas costumeiras e, de modo sumamente estranho, muitas vezes permanecia acomodada até alto dia, necessitando que alguém fosse alerta-la para que deixasse o leito.

Remédios já os havia tomado em grande quantidade, desde "vinho-composto" a chás de várias ervas, e até banhos de cozimento de folhas e flores já Lhe haviam sido ministrados, mas nada resolvia. Sinhá Anália confidenciava seus temores às amigas mais íntimas e estas procuravam afastar-lhe as preocupações:

- Ah, não é nada... é da idade... quantos anos ela tem? Quinze? Então tá aí, é da idade! Mas isso não tranqüilizava a apreensiva mãe que, interpelando a filha, revelando seus temores e fazendo indagações, recebia sempre respostas como esta:

- Que é isso, mãe? Estou boa, não sinto nada. A senhora está com medo só porque eu estou levantando um pouco mais tarde? Só porque ando com pouca fome? - e fingindo um sorriso - Se eu comesse muito aí a senhora ia achar ruim, é ou não é?

Dias se passaram, tristes e apreensivos, até que certa madrugada, ao raiar do dia, Sinhá Anália, que passava noites inteiras quase em vigília, ouvindo soluços provindos do quarto da filha para lá se dirigiu, encontrando-a abraçada ao travesseiro, abafando o pranto e murmurando palavras desconexas que pareciam ser:

- Não! Não vá... não quero... espere...

A desolada mãe, atordoada com aquelas palavras sem sentido algum, não alertou a filha. Acomodou-se aos pés da cama e se pôs a rezar, pedindo a Deus que Lhe desvendasse o mistério que aniquilava a filha.

De repente Marcelina começou a mover-se. Mui lentamente levou as mãos aos olhos como que procurando dissipar uma lágrima e depois, vendo a mãe ali postada, com voz entrecortada começou a falar:

- Que é isso, mãe? A senhora está ai? Está chorando? Ah, me perdoe... Eu sei... Eu estou fazendo a senhora sofrer... Mas... Não chore... Não se desespere... Eu sei que a senhora quer saber tudo, não é? Então escute... Eu vou contar o que tá se passando comigo! A senhora sabe a estória daquele bicho, daquele dragão que mora na Toca da Sununga, não é? Sabe, sim, porque todo mundo sabe. Por que é que toda gente deixou de passar por lá? Porque basta alguém chegar lá perto para o mar ficar bravo, chegando a jogar as ondas até na boca da toca, arrastando tudo, seja lá o que for que estiver por perto! Pescador, esse então nem se fala, esse navega lá de longe, pra mais de duzentas braças da praia e ai dele se chegar mais pra perto! Somem ele, a canoa, os apetrechos, some tudo, como já tem acontecido, é ou não é? Todo mundo sabe disso, todo mundo fala, mas até hoje ninguém disse que viu o tal dragão.

Isto é, ninguém disse, não, porque o "seu" Antero viu, viu e me contou. Ele me disse que numa noite tava chegando de viagem e como era muito tarde pra chegar na casa dele, na Praia das Sete Fontes, resolveu cortar caminho. Então foi andando por cima do morro, por trás daquela bruta pedra da toca. Mas aí, quando foi chegando perto, ouviu um rugido tão grande que se arrepiou todo! Quis correr mas não pôde, parecia que estava grudado no chão! Aí foi que ele viu o bicho que estava saindo da toca e andando pro lado dele! Era um bicho horroroso! De meio corpo pra cima era que nem aquele dragão que a gente vê nos quadros de São Jorge, onde o santo está fisgando ele com uma lança! O resto do corpo era que nem cobra, roliço, sem pernas, se arrastando no chão! Aí, a lua que tava clara, limpa, iluminando tudo, se escondeu por trás de uma nuvem deixando tudo escuro que nem breu! "Pronto, vou morrer!" - pensou ele. Fez o sinal da cruz, ajoelhou-se e começou a rezar o "Crendos Padre". O bicho parou e foi se encolhendo devagarinho, devagarinho, que nem cobra quando vai dar o bote, mas não fez isso, não. Ao contrário, fez a volta e foi sumindo no meio das árvores, pros lados da toca. Aí "seu" Antero me disse que pôde se desgarrar do chão e deu pra correr até chegar em casa, mais morto do que vivo! Lembra-se, mãe, daquele dia que o "seu" Antero me levou até a Maranduba pra assistir o casamento da Justina? Pois foi naquele dia, no caminho - conversa vai, conversa vem -,que ele me contou essa estória do dragão da Sununga.
O Dragão da Sununga é o responsável por deixar o mar tão agitado

Mas não sei, mãe, não sei porque aquele homem me contou isso. Não sei... Desde aquele dia nunca mais me esqueci do tal dragão, me parecendo estar vendo ele em toda parte, grande, gosmento, se arrastando no chão... Pra mim me parecia que ele tava na bica onde a gente lava roupa... no caminho que vai pra venda do "seu" Gardino... no acero da roça... até no rancho de guardar as canoas, me parecia que ele tava lá! Mas não tava, não! Era bobagem, mãe... Mas sabe que eu não tinha medo? Sabe que eu até tinha vontade de ver o tal dragão? Tinha mesmo... Juro que tinha... Pois uma noite - não foi sonho - eu tava acordada, tava acordada e vi quando ele veio sem fazer barulho, sem abrir a porta e entrou devagarinho aqui no meu quarto. Era o dragão, igualzinho, do mesmo jeito como o "seu" Antero me contou. Ai eu quis gritar pra senhora me acudir, mas quem diz que eu podia falar? Quem diz que eu podia me mexer? Aí o bicho foi chegando, chegando e ficando pequeno, tão pequeno que coube ali naquele canto perto da janela. Não demorou ele foi se enrolando, foi ficando do jeito de um tipiti bem grande e daí a pouco, mãe, aquilo foi virando gente e ficou do jeito de um moço, mas um moço bonito que Deus me perdoe - perdi o medo.

O moço ficou bastante tempo ali, de pé, me olhando com uns olhos azuis da cor do céu! E se riu pra mim... Aí eu me ri pra ele e ele veio vindo, veio vindo, chegou perto de mim, passou a mão nos meus cabelos... Depois sentou-se aqui na cama... Depois... Depois ficou comigo! Oi, mãe, ele foi embora só de manhãzinha, depois que o galo cantou três vezes... E eu fiquei com tanta pena... Tive até vontade de chorar... E chorei, não tenho vergonha de contar, chorei mesmo! Agora, mãe, não tenho vontade de trabalhar, nem de comer, nem de conversar, nem de nada. Minha vontade é de ficar aqui no quarto, de porta fechada esperando que a noite chegue e que o bicho venha e se vire no moço bonito, pra ficar comigo até de manhãzinha. Ainda há pouco, mãe, eu tava chorando. Tava chorando porque ele tava indo embora sem querer me ouvir. Eu tava pedindo pra ele ficar, mas ele nem ligou... Toda vez que vem aqui, vai embora antes do dia clarear. Não adianta pedir, não adianta chorar, ele não liga e vai embora. Então, é como já disse, eu fico aqui sozinha, pensando nele, até que volte outra vez pra ficar comigo...

* * *
Esta revelação Sinhá Anália ouviu-a no auge do desespero, quase arrastada às raias da loucura. Mas, que fazer? A quem apelar? Nada mais Lhe restava senão rezar e pedir a parentes e amigos que fizessem o mesmo, a fim de que um milagre a livrasse de tão iníqua provação.



* * *
Passava o tempo, quando certo dia bateu-lhe à porta um trôpego velhinho - talvez um monge, envolvido num manto andrajoso - que, com voz sumida e rouca pediu-lhe alguma coisa para comer, bastava um pedaço de pão com que pudesse mitigar a fome que lhe corroía as entranhas. Sinhá Anália, amargurada mãe que sofria tanto, ainda encontrou fibras sensíveis em seu coração para se compadecer do mísero viandante, faminto, maltrapilho e exausto. Fazendo-o entrar, agasalhou-o, deu-lhe de comer e depois de reanimá-lo, atendendo às suas indagações, relatou-lhe todo o infortúnio, toda a razão da tristeza que consternava aquela casa.

O velhinho ouviu-a, imoto, impassível, como em prece, como que absorto em pensamentos distantes. Finda a narrativa, fez Sinhá Anália sentar-se junto dele e revelou-lhe que, de há muito, bem longe dali, em sua peregrinação, já ouvira falar do monstro satânico que atormentava a população daquele bairro. Justamente por isso é que ali. viera, por inspiração divina, a fim de libertá-la da opressão que lhe infringia o Espírito do Mal.

Essa revelação correu célere pela redondeza, reunindo conside-rável multidão que, certo dia, sem temor, acompanhou o venerável ancião na caminhada que fez em direção á toca que abrigava o dragão da Sununga.

Caminhavam todos trôpegos, arfando, escalando a encosta pedregosa até atingir o cimo do íngreme penedo que recobre a desmedida gruta. Ali chegando, o monge ergueu os braços num largo e lento gesto do sinal da cruz, e ao murmúrio de piedosa prece, espargiu por sobre a pedra a água que levara num pequenino púcaro.

Naquele instante um trovão violento fez estremecer a terra, atordoando a multidão em prece! O mar, rugindo em doidas convulsões, projetou-se violento contra a impassibilidade das rochas, para retroceder, abrindo-se ao meio, bem em frente à toca, dando passagem ao monstro apocalítico que por ali avançou rugindo, sumindo ao longe, na profundeza das águas!

* * * 

Nunca mais se teve notícia do dragão da Sununga. De Marcelina, sabemos que embora arredia, taciturna, ainda viveu por longo tempo, conservando traços da rapariga que fora "de tez suavemente morena e olhos cinza esverdeados, farta cabeleira negra e ondulada", e mantendo o "por-te esbelto e curvas caprichosamente delineadas"!

Hoje, quem se postar no interior da lendária gruta, perceberá cair lá de cima, das ranhuras da pedra, uma seqüência de pequeninas gotas que se infiltram na areia branca e fina que alcatifa o chão.

Dizem, alguns, que são remanescentes gotas da água benta espargida pelo monge, que ainda caem, a fim de que o dragão jamais possa voltar.

Outros, porém, afirmam que são lágrimas de Marcelina, que lá voltou muitas vezes, na esperança de que o dragão, feito moço bonito, ainda voltasse, para ficar com ela a noite inteira, até os primeiros albores da manhã!

Blemia Powered by Google

Google