domingo, 16 de agosto de 2020

Decisões vs Repercussões - Será que conseguimos curar o mundo do coronavirus sem deixar o planeta ainda mais doente?

Decisões vs Repercussões - Será que conseguimos curar o coronavirus sem deixar o planeta ainda mais doente?
Tente se lembrar de como você aprendeu a jogar xadrez, se você fez como eu fiz, começou criando estratégias particulares para tentar tomar o rei do adversário, bem como proteger suas peças durante o jogo. Pode até ser que esse aprendiz faça um ou outro movimento brilhante, mas a grande maioria deles refletirão sua inexperiência em movimentos ruins e inconsequentes.

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Neste momento, estamos diante de uma crise sem precedentes que exige um modelo de tomada de decisões sem precedentes, assim como o aprendiz de xadrez acima, o mundo inteiro tenta se proteger da contaminação do coronavírus até que se encontre uma cura e/ou vacina, uma das melhores formas de fazer isso é usar máscaras ou outro EPI (equipamento de proteção individual) de plástico. No que diz respeito às máscaras, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, houve um aumento na produção e nas vendas até o momento, que chega a espantosos 20.000%.

É curioso que, diante de um problema sério e sem precedentes, pareçamos negligenciar as repercussões de uma decisão. A solução encontrada no momento parece ser o melhor curso de ação, mas depois mostra-se fraca, com apenas um passo de alcance repercussivo, com consequências mal ou totalmente antecipadas e no final, nos dá pouca ou nenhuma margem para correções de efeitos colaterais.

Por que isso acontece?

O cérebro humano processa 11 milhões de bits de informações sensoriais a cada segundo, mas apenas 40 a 120 delas sobem à mente consciente para serem avaliados e racionalizadas. Nosso cérebro opera com uma quantidade limitada de energia, como qualquer outra entidade na natureza, adotando o curso de ação mais rápido e eficiente, programamos em nossas mentes a antecipação de acontecimentos, a fim de estarmos preparados para eles.

Quando crianças e saíamos de casa, nossas mães falavam: "Leva o agasalho!", mesmo sabendo que eu vivia em um país tropical eu ouvia muito isso. Esse tipo de advertência pode vir da repercussão de várias gerações de mães anteriores à minha, que possivelmente perderam seus filhos inadvertidamente para a hipotermia.

Isso tem suas vantagens, imagine entrar em uma selva e ser forçado a avaliar cada fóton de luz recebido, tentando discernir se existe perigo por trás de cada uma das 20.500 folhas da árvore ao redor como rãs ou insetos venenosos, sem falar em cobras, grandes felinos e outros predadores. Levaria dias antes de darmos nosso primeiro passo e seriamos facilmente devorados por eles.

Quando entramos na tal floresta, nossas mentes optam por avaliar os riscos que podem realmente nos prejudicar, resultantes de informações que podem ter vindo de relatos de sobreviventes ou aprendizagem pessoal de visitas anteriores a essa floresta, reduzindo as dezenas de milhares de avaliações de perigo pertinentes para apenas as 20 mais perigosas deles - como abelhas, cobras e onças (você pode até ser atingido por um meteorito em uma floresta, mas as chances de isso acontecer são tão baixas que não faz parte do 'plano de prevenção de risco mental projetado para essa floresta específica ').

Isso pode ter nos ajudado muito nos tempos pré-históricos, mas com o grande volume de decisões que o mundo moderno nos expõe, essa primitiva tomada de decisão tem se mostrado insuficiente.
Numa escala de 01 à infinito, podemos medir o quanto uma decisão tomada pode repercutir no futuro, onde nível 01, é totalmente inconsequente, gerando toda sorte de acontecimentos indesejados, aumentando exponencialmente para nível 10, uma decisão com certo grau de ponderação, sem grandes efeitos colaterais futuros e uma racionalização determinista (hipotética) na qual todas as contingências foram antecipadas, restando somente efeitos bem desenhados e prosperos, precisamente calculados.

Foram necessários 4,5 bilhões para o homem se destacar dos demais seres vivos graças às recém-adquiridas habilidades lingüísticas, racionais e de planejamento, para ter o papel de protagonista no planeta, porém, ainda nos comportamos como o aprendiz de xadrez citado acima, ainda cometemos erros ingênuos e atrapalhados, que se não forem bem observados, pode levar a sérias repercussões no equilíbrio da vida na Terra.

Às vezes uma ou outra pessoa com percepção acima da média antecipa um ou mais graus de repercussões na tomada de decisão, o que pode nos afastar do cenário de total inconseqüência avançando para sonhado estagio de determinismo integral, (situação hipotética em que todas as contingências são antecipadas, criando perfeitas tomadas de decisão). Infelizmente, nem sempre, essas pessoas estão no circuito oficial dos tomadores de decisão, ou quando estão, não são fortes o suficiente para serem ouvidos, revelando-nos um outro defeito do ser humano que é muito prejudicial na tomada de decisões, as dificuldades psicológicas de lidar com os sentimentos como ego, medo, insegurança no trabalho e arrogância.

Como devemos tomar nossas próximas decisões?

É evidente que já temos algumas ferramentas que nos ajudam a tomar decisões frente a situações complexas e inusitadas. No caso da administração pública, por exemplo, escolhemos o expediente de adotar partidos políticos e criar antecipações de direita, esquerda e centro - isso ajudou muito os políticos de direita identificarem riscos para a hierarquia social, família e a pátria, enquanto os políticos de esquerda a reagem mais eficazmente aos riscos e violações dos direitos dos desfavorecidos na sociedade.

Esse modelo pode ter funcionado no passado, mas como no aforismo do elefante na sala, tomar decisões considerando parte do todo como verdadeira é retrógrado e muito simplista. Precisamos de um modelo mais amplo, democrático e menos auto-serviente do que o atual.

Se combinarmos várias ciências aprendidas até o momento destinadas a um propósito definido, digamos ... administração pública, talvez possamos criar um sistema de avaliação e tomada de decisão mais consistente com o mundo atual:

- Podemos usar as redes sociais e APPs para incluir uma vasta gama de especialistas, com o propósito formular soluções possíveis, abrangendo múltiplos pontos de vista, de especialistas de vários setores, com opiniões de pessoas qualificadas, criando um 'ambiente de ampla participação - wiki', aumentando estatisticamente o número e a qualidade de soluções finais possíveis;

- Sistemas de inteligência artificial combinados com um banco de dados histórico de tomadas de decisão anteriores, somados às múltiplas soluções obtidas na proposição acima, poderiam testar alternativas em milissegundos e nos dar resultados de eventos em vários níveis, antecipando não apenas dois ou três, mas múltiplos previsões de repercussões;

- Os psicólogos poderiam avaliar e monitorar os tomadores de decisão final, criando um painel mais abrangente e menos contaminado com o vies do gosto pessoal, para que tomem decisões que efetivamente melhorem a comunidade;

Se agirmos rapidamente, e usarmos um pouco mais de nossas capacidades civilizatórias, ainda podemos ter tempo para encontrar uma solução plausível para o desequilíbrio causado pelos resíduos plásticos no planeta, curar a humanidade do coronavírus e ainda gerar um inesperado benefício extra para a vida na Terra.

Referências 

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sábado, 15 de agosto de 2020

SÃO PAULO - A CAPITAL MUNDIAL DA CALÇADA FEIA

SÃO PAULO - A CAPITAL MUNDIAL DA CALÇADA FEIA

Imagine uma vila que não tivesse uma liderança centralizada, sem prefeito ou alcaide! Agora imagine que essa vila vive nos primórdios da chegada das lâmpadas elétricas, todos ficam entusiasmados com a revolução e decidem colocar luminárias voltadas para a rua, pois assim, todos enxergariam as ruas durante a noite.

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Teríamos um problema aqui e ali, pois sempre tem aqueles que querem se beneficiar da luz sem colocar a mão no bolso, ou aquele outro que, por diversão, gosta de jogar uma pedra para quebrar a lâmpada, são os chamados vândalos, más são casos isolados.

Nesse cenário se justifica então pagar um IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) para a prefeitura, uma administração centralizada, nos dispor esse serviço básico e especifico, descrito por David Hume em 1734 para explicar que, uma vez arrecadado, a prefeitura, deve ser totalmente responsável pelo mobiliário urbano de uso coletivo – No entanto, aqui em São Paulo, nenhum prefeito ou eleitor desde os anos 50 ouviu falar dele...

Não estamos cogitando nem a hipótese de trocar as calçadas e as luminárias existentes, somente a mera manutenção bastaria, será que é tão caro assim?

Em 1927, a São Paulo Tramway, Light and Power Company Ltda, simplesmente chamada de LIGHT pelos paulistanos, assinou um contrato com a prefeitura e o governo estadual para reforma da rede de iluminação pública da cidade e belos postes de luz no estilo inglês foram implantados.
Lindos postes da Light tipo 16 

Esses postes da LIGHT, junto com as lindas calçadas com pisos que formam o contorno fronteiriço do estado de São Paulo, logo se transformaram em ícones da cidade.

As lindas luminárias da LIGHT estão se deteriorando em ritmo acelerado e a pergunta que todo mundo que passa por essas ruas faz é "é verdade que a cidade não tem dinheiro para manter esse ponto básico de toda a teoria da arrecadação de impostos?", a resposta é "Sim, mas muito se perde na corrupção e na inépcia".

Esses postes da LIGHT, junto com os belos pavimentos com azulejos que formam o contorno da divisa com o estado de São Paulo, logo se tornaram ícones da cidade. Porém, uma lei inusitada determina que os moradores sejam responsáveis por suas calçadas, causando péssimas repercussões.

Os moradores decidem individualmente como cada calçada deve ser, transformando a cidade em uma feia colcha de retalhos. E como se não bastasse, a manutenção não é feita, os buracos e elevações provocados pelas raízes de árvores e plantas fazem os caóticos mosaicos de fendas e fendas. destroços, Pedregulho.

A ordem e a beleza dos postes, calçadas e outros elementos urbanos têm um papel que vai além de sua finalidade funcional principal; devemos sentir o orgulho de nossos símbolos urbanos. Mas, no caso de São Paulo, representam a falta de cuidado e a ausência da administração pública. Quando um poste de luz ou uma calçada são danificados, o cidadão sente pena de sua própria cidade, isso é ruim de mais.

É a chamada teoria das janelas quebradas "broken windows theory" , um modelo norte-americano de política de segurança pública no combate ao crime, tendo como visão fundamental a desordem como fator de elevação dos índices da criminalidade. Nesse sentido, apregoa tal teoria que, se não forem reprimidos, os pequenos delitos ou contravenções conduzem, inevitavelmente, a condutas criminosas mais graves, em vista do descaso estatal em punir os responsáveis pelos crimes menos graves. Torna-se necessária, então, a efetiva atuação estatal no combate à criminalidade, seja ela a microcriminalidade ou a macrocriminalidade.

Ao ver uma calçada bem preservada, você se sente apoiado e protegido por sua cidade, inspira cidadania e respeito. Alguém de bom senso e civilidade nunca jogaria papel, bituca de cigarro ou chiclete nessa calçada  - pelo menos a probabilidade estatística de isso acontecer seria muito pequena. Se nos casarmos com uma política de multas e pequenas punições, a situação melhoraria muito.
Não seria melhor ter uma calçada assim? a resposta é SIM - mas aqui em São Paulo os gestores públicos ainda estão em dúvida
Em 24 de janeiro de 2019, o prefeito Bruno Covas promulgou o Decreto nº 58.611, que visa uniformizar as calçadas de São Paulo, essa iniciativa está no caminho certo, mas continuar a responsabilizar total ou parcialmente o morador pela sua manutenção ainda é um dos piores erros que a cidade vem comentando - transferir responsabilidade só porque não tem dinheiro não justifica a violação da principal teoria de arrecadação de imposto municipal x manutenção e benfeitorias urbanas, postulada em 1735.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Itagenemimética a ciência e a arte de aprender com povos ancestrais

Luiz Pagano apresentando o Cauim no Bar Convent de São Paulo - Junho/2019 - 
Nos últimos anos venho dedicando minhas atividades às funções de artista e cientista, principalmente no que se refere ao CAUIM, bebida alcoólica fermentada de mandioca, consumida por mais de 270 etnias indígenas brasileiras, que eu quero trazer para o grande publico na forma de uma bebida industrial, (com garrafa bonita e tudo) produzida com processos sofisticados, com grandes similaridades ao saquê. Essa iniciativa tem o grande propósito de fazer com que sintamos orgulho de sermos brasileiros de origem Tupi - sonho com o dia em que todos nós, brasileiros e/ou estrangeiros, poderemos comer os pratos sofisticados de Alex Atala ou Tiago Castanho harmonizado com Cauim dos Yekuanas ou dos Waurás, embalados na 'Tupi Pop Culture'.

Esse trabalho me fez pesquisar a vida e modos de nossos povos ancestrais de uma maneira única, enxerguei possibilidades variadas de cultura prospera, de boa indole, feliz e completamente amiga da natureza e do planeta.

Talvez não consiga transmitir a grandeza do que sinto em relação ao assunto, mas seguramente isso não me impede de tentar.  Nós somos tão educados na cultura européia, que achamos que esse é o único "idioma cultural" do mundo, mas as coisas começam a mudar e a cultura da floresta começa a se revelar imprescindível para nossa sobrevivência no planeta.

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Em 2015 Davi Kopenawa da etnia Ianomâmi, que tem sido chamado de ‘Dalai Lama da Floresta’, acompanhado por Fiona Watson, Diretora de Pesquisa da ONG Survival International, e especialista mundial em tribos isoladas. deram entrevistas para a imprensa americana e várias palestras em e ao redor de San Francisco, falando sobre o incansável trabalho para proteger a terra de sua tribo na Amazônia, e de como essa experiência pode se aplicar para o mundo.

Não é de hoje que a floresta amazônica tem sido reconhecida como um repositório de serviços ecológicos, não só para as tribos e as comunidades locais, mas também para o resto do mundo. É também a única floresta que nos sobra em termos de tamanho e a diversidade.

Sua continua queima e o aquecimento global se agravam, a saúde das florestas tropicais está intimamente relacionada à saúde do resto do mundo e o impacto do desmatamento na Amazônia continua a desfazer gradualmente os frágeis processos ecológicos que foram refinados ao longo de milhões de anos.

A solução para essa questão de como encontrar o equilíbrio necessário para a sobrevivência da floresta e conseqüentemente do planeta, não pode ser encontrado na ciência em si, mas sim na ciência aliada a questões filosóficas de povos locais, como os Ianomâmis.
Para os Ianomâmi o mundo é dividido em dois grupos de indivíduos, a dos YANOMAMI THËPË (seres humanos, gente) e a dos NAPË (nos, homens brancos, os inimigos os ‘ferozes’)

Os ianomâmis já foram tidos como um povo ‘feroz’ na sensacionalista e atrasada obra Yanomamö: The Fierce People (Yanomamö: O Povo Feroz), de antropólogo americano Napoleon Chagnon, que os descreve como “manhosos, agressivos, e intimidadores” e até hoje é tida como a bíblia do recém graduado de antropologia, levando o resto do mundo a idéias cada vez mais preconceituosas.

O bom é que isso vem mudando com o tempo, e passamos a ouvir cada vez mais a sabedoria do povo da floresta - do ponto de vista Ianomâmi o mundo é dividido em dois grupos de indivíduos, a dos YANOMAMI THËPË (seres humanos, gente) e a dos NAPË (nos, homens brancos, os inimigos os ‘ferozes’).

A floresta não se queima por si só e os rios não se auto-poluem, são os NAPË que o fazem.

A poluição de rios é reflexo de uma postura ativa dos NAPË, se deixarmos de jogar poluentes nos rios Tiete e Pinheiros no perímetro urbano, por exemplo, teríamos os rios limpos em questão de semanas. De fato, nós os NAPË somos proativos em poluir e devastar, direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente.

Se perguntarmos a um índio Ianomâmi, o que ele acha do homem branco - NAPË, acabamos por ter vergonha de sua resposta.
Nadar na imensidão dos rios Amazonas e Tocantins me fez entrar em contato espiritual com a cultura YANOMAMI THËPË. O homem branco se considera único e diferente dos outros seres ao seu redor, - Os NAPË vivem sob o conceito de ‘silêncio dos espaços infinitos de Blaise Pascal’, estamos sozinhos, em um monologo. Os Ianomâmis não, eles são capazes de amar e dialogar com tudo e com todos ao seu redor.

De acordo com os índios Ianomâmis, o NAPË, não pensa em nada, não ama a terra, não ama a floresta, tem uma visão egoísta, inconseqüente e de curto prazo. Os conceitos dos Ianomâmis parecem ser muito mais elevados e muitas vezes de difícil concepção para nossa cultura, por isso resolvi classificá-los em grupos:

O conceito de ‘ser vivo’

O ‘ser vivo’ dos Ianomâmis é o que tratamos como ‘gente’, expresso como YANOMAMI THËPË.

O NAPË (homem branco) parece se importar apenas com ele mesmo e em nível secundário, com seus familiares diretos. Esse sentimento tende a diminuir com seus vizinhos e familiares distantes e são quase inexistentes para as outras pessoas do mundo, mas o lado positivo é que ele adota animais de estimação e isso parece ser um pequeno indicio de amor a outros ‘seres vivos’ que não pertença a classificação de Homo sapiens .
Os Ianomâmis são capazes de dialogar com tudo e com todos ao seu redor.

É muito comum ver índias amamentando seu bebe em um dos seios e um macaco, ou outro animal no outro, cena que causa incompreensão e repulsa ao homem branco que a presencia pela primeira vez. Para os índios esses animaizinhos também são ‘gente’ e tem direito ao leite materno, que não é da mulher mas sim da natureza.

Toy Art Yanomami


O homem branco se considera único e diferente dos outros seres ao seu redor, - Os NAPË vivem sob o conceito de ‘silêncio dos espaços infinitos de Blaise Paschoal’, estamos sozinhos, em um monologo. Os Ianomâmis não, eles são capazes de dialogar com tudo e com todos ao seu redor.

Para eles, quase tudo é ‘ser vivo’, ou ‘gente’ – o animal é gente, a planta é gente e até mesmo alguns artefatos também são tidos como gente, e essa ‘gente’ toda jamais deveria ser incomodada, e muito menos ofendida.
É muito comum ver índias amamentando seu bebe em um dos seios e um macaco, ou outro animal no outro, cena que causa incompreensão e repulsa ao homem branco que a presencia pela primeira vez. Para os índios esses animaizinhos também são ‘gente’ e tem direito ao leite materno, que não é da mulher mas sim da natureza.

Para os Ianomâmis, ninguém gosta de ser ofendido e cada vez que isso acontece, o ofendido se manifesta contra o ofensor.

Dessa forma, surgem algumas conseqüências e indagações, tais como:

- O que acontece se matamos um animal para comer? – matar um ser vivo é uma ofensa muito grave, mesmo que este tenha o titulo de YARO (animais de caça). isso não os impede de matar os YARO, mesmo conscientes de que sua morte terá conseqüências.

Eles pensam, “ao matarmos esses seres, aguarde pela reação que pode se manifestar de diversas formas, pode ser pequena indigestão, ou até mesmo na forma do ataque de outros animais do grupo, por exemplo de onças, parceiras do animal morto.

O conceito de ‘propriedade’ 

Nós não temos terra, a terra é que nos tem. A propriedade aos bens físicos é intangível posto que nossa matéria é perecível. Tais posses podem levar ao sofrimento (tal como no budismo).

- a Amazônia é importante pois dela vem o conhecimento que devemos ter para superarmos a crise civilizatória, de degradação do ambiente.

O conceito de ‘Evolução’

Os NAPË estão num estado de evolução inferior aos YANOMAMI THËPË  (os próprios ianomâmis), porem existem seres mais evoluídos, como os YAI, seres da floresta isentos de nome.

É nessa hora que o leitor fica indignado - como eles podem nos achar mais atrasados que eles?

Existem diversas formas de nos fazer ver o quão pouco evoluídos somos em comparação, por exemplo a questão do lixo.

Na natureza, o lixo de qualquer ser vivo se incorpora como utilidade para outro ser vivo (eg.  as fezes de mamíferos viram fertilizantes para plantas, o oxigênio expurgado pela arvore vira o ar que respiramos, etc.). Nós os NAPË, produzimos uma enorme quantidade de lixo que mais prejudica do que ajuda outros seres vivos.

A relação dos YAI com os YANOMAMI THËPË e com os NAPË é a mesma que nos, homens brancos, temos com as amebas.

O homem tem percepção de 4 dimensões, capacidade de raciocinar sobre os acontecimentos ao seu redor, lê livros, constrói pontes e observa as amebas no microscópio. As amebas por sua vez vivem num mundo muito mais limitado, tem diminuta capacidade de percepção que as possibilitam apenas comer formas vivas ao seu redor, não são capazes de ler nem, muito menos de construir pontes.

Os YAI nos observam como nós, homens observamos as amebas, sem que sequer nos demos conta. São infinitamente superiores e transitam por dimensões ainda inconcebíveis para nós.

O conceito de ‘URIHI’ - palavra Ianomâmi para floresta, ecossistema

A palavra yanomami UHIRI designa a floresta tudo que nela habita, com conexões e inter-relações infinitas, IPA URIHI, "minha terra", pode referir-se à região de nascimento ou à região de moradia atual do enunciador. URIHI pode ser, também, o nome do mundo: UHIRI A PREE, "a grande terra-floresta".
Nós os NAPË, somos a única espécie do planeta que produzimos lixo sem que esse entre em equilíbrio com o ecossistema.

A floresta amazônica é a maior região de floresta continua do planeta, corta nove países, corresponde a 60% do território brasileiro, quase 6 milhões de km2. O Rio Amazonas tem 6.800km de extensão, 105km a mais do que o Nilo de acordo com a medição de 2007, nele se encontra 20% da água doce do mundo.

Atualmente 18% da floresta já foi devastada, essa devastação aparece na forma de Pecuária extensiva e de baixa inteligência, propriedade ilegal, garimpo irregular.

Parece pouco mas 1% de área devastada, o mesmo índice de desmatamento em 1975, 60mil km2 é maior do que o estado do Rio de Janeiro ( aprox. 43.000km2).

O Brasil pode ser muito ruim no que diz respeito com o trato com os rios de suas capitais principalmente devido a corrupção e motivos eleitoreiros, mas trabalhos isolados na Amazônia chamam a atenção pela genialidade.

O conceito de Itagenemimética ou itagenemimicry 

Você sabia que os europeus aprenderam o habito de fumar ervas com os índios americanos? Talvez a industria do cigarro tenha sido a primeira a usar do conceito de Itagenemimética (a arte/ciência de aprender com povos indígenas e tradições ancestrais). É importante que se diga que o cigarro que conhecemos hoje, causador de mortes e doenças sofreu uma serie de modificações para pior desde sua adoção inicial ou melhor dizendo, foi sem duvida uma adoção de habito degradativo vinda de nossos ancestrais. Ma a grande maioria dos hábitos que adquiríamos deles no entanto, como dormir em rede, tomar banho todos os dias e beber o guaraná, tem sem mostrando muito saudáveis.

A biomimética* juntamente com a itagenemimética**, são as melhores e mais eficazes ferramentas de aprendizado que nossa civilização pode fazer uso atualmente - quanto ao Itagenemimética, creio que foi eu quem inventou essa palavra numa de minhas palestras, mas faz todo sentido (rsrsr)

O homem civilizado vem se distanciando cada vez mais de seus irmãos que vivem nas tribos, os hábitos degradativos dos civilizados parecem ser muito piores do que o dos indígenas, dispersar plástico no planeta e emitir CO2 são alguns deles.

Os indígenas que conheço dizem que os civilizados são muito burros, nos fazemos coisas que nenhum animal faz, nós defecamos na água que bebemos. É evidente que com o nosso atual nível de desenvolvimento cultural, viver em tribos e abandonar os bens materiais e conquistas que tivemos poderia ser tido como uma involução, no entanto prestamos cada vez mais atenção no que eles tem a nos dizer.

*Biomimética ou biomimética é a imitação de modelos, sistemas e elementos da natureza com o objetivo de resolver problemas humanos complexos (grego: βίος, life e μίμησις, imitação, de μιμεῖσθαι, para imitar, de μῖμος, ator).

**Itagenemimética ou itagenemimicry é a imitação de modelos, sistemas e elementos adotados por comunidades ancestrais ou povos indígenas com o objetivo de resolver problemas humanos complexos (grego: ιθαγενείς, itageneis - povos indígenas e μίμησις, imitação, de μιμεῖσθαι, para imitar , de μῖμος, ator).

Não podemos colocar uma cúpula de proteção sobre a Amazônia

A proteção ambiental só pode acontecer se não se opor as enormes forças econômicas, portanto temos que atribuir valor para floresta em pé, e não desmatada.

Tudo que temos que fazer é usar a inteligência YANOMAMI THËPË para nos guiar. Mais dia, menos dia, as arvores muito velhas caem naturalmente como parte do processo de renovação, parte do ciclo natural da floresta. Se bem monitoradas, essas arvores podem ter suas quedas administradas por agrônomos legais e sua madeira pode ser utilizada com mais inteligência.

Um tronco de uma sumaumeira centenária vale pouco mais de R$10,00 no mercado negro, enquanto que um belo artesanato feito com pouco mais de 50 cm de comprimento da mesma arvore pode chegar a valer R$ 300,00.

Este é um bom exemplo de como transformar uma atitude NAPË em YANOMAMI THËPË
Ciencia aliada a filosofia Yanomami  -  A nossa única saída para salvar o planeta. Um veiculo de baixo impacto em destruição do solo corta uma samaumeira, num processo de renovação inteligente da selva Amazônica.

Creio que o grande fato gerador dos problemas da Amazônia atual foi o PIN, Programa de Integração Nacional, programa de cunho geopolítico criado pelo governo militar brasileiro através do Decreto-Lei Nº1106, de 16 de julho de 1970, assinado pelo Presidente Médici.

Preocupados em perder o vasto território amazônico pela dificuldade de monitorar suas fronteiras, o governo militar propôs realocar as vitimas da improdutividade das regiões de seca nordestina e transformá-los em mão de obra na prospera região amazônica, dessa forma ocupar os vazios demográficos amazônicos, "integrar para não entregar" e "terra sem homens para homens sem terras" foram as palavras de ordem da época.

O PIN teve o maravilhoso mérito de mobilizar o sentimento nacionalista, independentemente de visão política e promover a colonização da Amazônia.

A rodovia Transamazônica foi a ferramenta escolhida por Médici como via de acesso à floresta. Com 4 223 km de comprimento, ligando a cidade de Cabedelo, na Paraíba à Lábrea, no Amazonas, a estrada corta sete estados brasileiros: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas.
Num futuro próximo o sistema agro-florestal poderá ter a ajuda de drones coletores para promover agricultura de baixo impacto ambiental. No sistema agrícola de hoje nós desmatamos as florestas para depois plantar, com o propósito de limpar o terreno e assim, facilitar a entrada das nossas antiquadas maquinas agrícolas - com o advento dos drones coletores não precisaremos mais levar a cabo um processo tão pouco inteligente. 

Ao lado da estrada algumas rotas surgiram, e dessas outras ruas pequenas, ligando as fazendas, comunidades e casas - a chamada espinha de peixe, é a causa para a ocupação irregular e o consequente desmatamento.

O homem do nordeste, em sua grande maioria, junto com outros de outras regiões do Brasil e do mundo, que lá chegaram encontraram grande facilidade em ter cabeças de gado, posto que para se obter a posse da terra eles somente tinham que transformar 50% de suas terras em pastagem.
Um sistema de inteligencia artificial avalia as frutas e hortaliças por meio de sensores bem mais sofisticados que nossos olhos, braços robóticos colhem as frutas e as colocam numa cesta circular, a bordo de um drone coletor.

Hoje existem 60.000.000 cabeças de gado na Amazônia, uma relação de 3 bois para cada habitante da região.

Como mudar a filosofia NAPË em YANOMAMI THËPË?

Nós NAPË olhávamos a floresta como mato não como fazenda, se quisermos plantar algo ali, temos que desmatar para depois plantar, mas índios locais inspiraram um grupo de japoneses a criar os chamados SISTEMAS AGRO-FLORESTAIS.
Hajime Yamada chegou em Tomé-Açú no dia 22 de setembro de 1929, aprendeu com os indígenas a tecnologia do sistema agro-florestal, nós sempre olhamos a floresta como mato não como fazenda (foto: documentário Amazônia Eterna) - nt na caligrafia 永遠のアマゾン - Amazonia Eterna

Um grupo de imigrantes japoneses chegou ao município de Tomé-Açu, no Pará, no fim da década de 1920 com proposta de plantar da pimenta-do-reino, Nos anos 70 com a queda dos preços e epidemias nos pimentais fez com que repensassem seu negocio.

Baseado em antigo conhecimento indígena, eles passaram a cultivar a pimenta-do-reino no mesmo espaço do cacau, bem como com o cupuaçu, mamão, açaí, coco, maracujá, castanha-do-pará, borracha natural e paricá. A praga dos pimentais foi combatida por predadores locais, trazidas pelas outras plantas, em equilíbrio com a natureza.

De lá para cá, o sistema foi aperfeiçoado na base da tentativa e do erro para a escolha das melhores combinações de espécies. Hoje, Tomé-Açu é referência nesse tipo de plantio e a cooperativa acumula diversos prêmios relacionados a empreendedorismo e sustentabilidade.

Além disso, a CAMTA promove e orienta a adoção dos sistemas agro-florestais para agricultura familiar em municípios vizinhos e realiza a comercialização dessa produção, um projeto que atende cerca de mil famílias da região.
Robos de extração de látex funcionam de forma autonoma, abastecidos com a luz do sol. As 'estradas de seringa' (os riscos feitos na casaca das seringueiras) são precisos, pois contam com sofisticados sensores que fazem cálculos precisos para melhor aproveitar a extração. 

A idéia básica desse sistema agro-florestal é realizar o plantio integrado de diferentes espécies vegetais, de tamanho variado, juntas em uma mesma área, formando diversos 'andares' – o processo recebe justamente o nome de agricultura em andares.

O sistema agro-florestal, conhecido dos povos indígenas já a muito tempo, oferece uma série de vantagens como:

- Como gera grande quantidade de matéria orgânica no solo proveniente de diversas culturas, há menos necessidade de adubos e agrotóxicos;

- Essa variedade de nutrientes gera alimentos mais saudáveis;

- A cobertura vegetal abundante também retém a umidade da terra, protege as plantações do Sol e proporciona um ambiente mais agradável para o trabalho no campo;

- O plantio de diversas culturas ao mesmo tempo permite a produção continuada e gera renda durante o ano todo.
Parte importante da filosofia YANOMAMI THËPË é que 'lixo não existe', não podemos jogar nada fora (fora de onde? do planeta?). Isso posto, todos os equipamentos são 100% reciclados para produção de novos equipamentos, substancias que não podem ser utilizadas em outros equipamentos são reintegradas na natureza por compostagem. Todas instalações tem imensas claraboias pois 80% dos equipamentos funcionam com energia solar.

Depois de tanto tempo catequizando nossos índios de acordo com heranças culturais européias, agora  chegou a hora de nos catequizarmos nos moldes do povo da floresta, quem sabe assim poderemos salvar nossas almas e nossas vidas.

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