domingo, 5 de outubro de 2025

Transição do Mercado Financeiro para o Mercado de Bebidas


Luiz Pagano no NorChem e Chemical Bank - O Chemical Bank recebeu esse nome porque foi originalmente fundado como parte da New York Chemical Manufacturing Company em 1823. Inicialmente, o banco financiava as operações da empresa-mãe.

Minha trajetória no mercado financeiro (antes de trabalhar no mercado de alimetnos e bebidas) começou em meio a um dos momentos mais conturbados, em 10 de fevereiro de 1989, perdi meu pai, e foi nesse cenário de dor e incerteza que meu primo, Paulo Moraes, estendeu a mão e me arranjou uma colocação no Banco Noroeste, na área de câmbio. Entrei como auxiliar e logo fui promovido à técnico de Câmbio, lidando com os formulários da CACEX do Banco do Brasil, numa época em que os incentivos à exportação tinham um peso enorme. Logo depois, fui para a contabilidade centralizada de câmbio e, na sequência, para o departamento de garantias.


Como tinha pressa de crescer e queria ocupar posições de liderança mais rápido do que o ritmo natural do banco permitiria, tomei a decisão ousada de migrar para o Banco NorChem — algo que, fora o Paulo Moraes, meu primo, ninguém havia feito - O pessoal do NorChem enxergava os funcionários do Banco Noroeste com um certo proconceito, como "primos menos competentes".

O Banco NorChem estava localizado nos 11º e 12º andares do Cetenco Plaza, na Avenida Paulista 1842

No NorChem, entrei para cuidar das rotinas de exportação e importação, e logo percebi o choque de estrutura. No Banco Noroeste, a área de exportação tinha 23 pessoas, e a de importação outras 17. No NorChem, tudo o que 40 pessoas faziam no Noroeste, era executado apenas por mim, uma estagiária e minha gerente. Mesmo com um fluxo de trabalho menor que o do Noroeste, a sobrecarga operacional era enorme.

Para piorar, minha gerente era microgestora — controlava tudo de perto, o que tornava mais difícil ainda criar ritmo e autonomia. Lembro nitidamente de meus primeiros dias, épcoa do Natal de 1993: recebi dezenas de documentos de embarque de PET da Celbras, destinados à Coca-Cola em Atlanta. Por uma semana inteira, dormi apenas quatro horas por dia para dar conta de tudo.

Naquela fase do mercado financeiro, tudo era muito diferente do que existe hoje. A operação no Banco NorChem exigia domínio de vários sistemas e tecnologias que, embora avançadas para a época, eram extremamente manuais e limitadas.

Para registrar e controlar as operações de exportação e importação, usávamos um sistema de gerenciamento de câmbio chamado ChipShop, que rodava em PCs integrados por rede Novell e interfaces pouco intuitivas. Além disso, havia a obrigatoriedade de alimentar o SISBACEN, sistema do Banco Central, que exigia digitação código por código — sem margem para erro.

Luiz Pagano em visita ao COFACE Compagnie Française d'Assurance pour le Commerce Extérieur, Novembro/dezembro de 1995 - O Coface realiza regularmente a Country Risk Conference, eventos oferecem análises e previsões sobre tendências econômicas globais e regionais, incluindo a América Latina.​ A empresa publica o Manual de Riscos por País e Setor e relatórios periódicos, oferecendo uma análise detalhada dos riscos em 160 países e 13 setores.

A comunicação interbancária era baseada em ferramentas pré-internet, tais como o Telex para mensagens formais de câmbio e transferências internacionais e o fax para envio de documentos de embarque, contratos e cartas de crédito.

O banco ainda oferecia um sistema de cash management chamado Chemlink, voltado para clientes corporativos, e trabalhávamos com o FTPC (Funds Transfer by Personal Protocol Computer), que era uma forma inicial de integração com a rede SWIFT, usada para transferências internacionais.

Internamente, a comunicação era feita pelo Netcom, um e-mail restrito à intranet da rede Novell, algo que hoje parece rudimentar, mas que na época era tecnologia de ponta.

Na mesa de operações, havia apenas um terminal da Reuters, as cotações e dados de mercado apareciam naquela única tela, e nós precisávamos passar as informações manualmente para uma macro no Lotus 1-2-3, que era o precursor do Excel. Automatização era praticamente artesanal.

A combinação de sistemas fragmentados, pouca automação, cobrança intensa e equipes enxutas fazia cada tarefa demandar muito mais esforço do que hoje. E ainda assim, tudo precisava ser feito com precisão absoluta, dentro de prazos rígidos e sob supervisão constante.

Baía de Luiz Pagano no Norchem. Uma das grandes vantagens de migrar do Noroeste para Norchem, além do melhor salário,  era o pagamento em dólares. Obviamente, não era possível ter contas em dólares no Brasil pós Plano Real, então a solução era converter o salário e creditá-lo, ajustado mês a mês.

TINHA TAMBÉM ESTRESSE NO BANCO NOROESTE

Mesmo no Banco Noroeste, com seus níveis de estresse mais moderados, a vida bancária no final dos anos 1980 era difícil. Para se ter uma ideia, um dia, enquanto bebia no Bar Guanabara com colegas, apostei todo o meu salário com um amigo, Marco Antonio Soares, que acabara de ser contratado para trabalhar no mesa de operações.

Ele duvidava que eu conseguisse pular do Viaduto do Chá.

Eu já tinha estado lá antes e visto que conseguia pular em um galho de árvore alguns metros à frente e descer. Marcos aceitou a aposta, dizendo que se visse o que eu faria e fizesse o mesmo, não teria que pagar o salário dele (um pouco maior que o meu) e a aposta seria cancelada. Como eu adorava desafios, aceitei.

Foi um salto arriscado; aquele ponto devia ter uns 10 ~ 12 metros de altura. Pegeui impulso, pulei bati o pé no guarda-corpo alto e cilíndrico do viaduto e pulei em direção à árvore.

Crachá do Banco Noroeste, Gerência Administrativa Internacional - Departamento de Câmbio

O salto não saiu como planejado — errei o galho e peguei um outro, consideravelmente menor, que cedeu e me jogou lentamente no troco da árvore, e por fim acabei no chão. 

O resultado foi uma pequena perfuração perto do meu pulmão esquerdo, uma camisa branca encharcada de sangue e muita diversão.

No entanto, acabei perdendo a aposta porque ele pulou na mesma árvore que eu, sem grandes ferimentos.

Naquele dia, aprendi a nunca duvidar de um ariano ávido por  desafios.

TAMBÉM HOUVE RESPIROS E GANHOS

Apesar da pressão e das dificuldades, aquele período não foi só desgaste. Aproveitei as oportunidades e fiz diversos cursos, como matemática financeira e idiomas com professores nativos — algo que me abriu horizontes e me preparou para outros níveis de atuação. 

Havia também diferenças positivas em relação ao Banco Noroeste: enquanto lá existia um departamento de 'Conciliação Bancária' com 7 pessoas apenas para conciliar discrepâncias da “conta transitória”, um montante enorme de debitos sem créditos correspondentes, no NorChem nenhum lançamento contábil podia ficar sem a contrapartida correspondente e era fechado no mesmo dia. O departamento de liquidações financeiras sempre ficava até o último horário para fechar a conta transitória em D+0, o que evitava acúmulo de pendências, eliminava preocupações e poupava retrabalho para todo mundo.

Tenho dezenas de diplomas de cursos que fiz

Depois de diversos desentendimentos com a gerente, fui remanejado para a dealing desk. Achei que seria um recomeço dentro do próprio banco, mas não houve tempo. A minha passagem pelo NorChem foi interrompida de forma abrupta com a demissão na época da fusão com o Chase. Além da reestruturação, eu já estava no limite, vivendo um burnout muito grave.

Eu tinha estudado Comércio Exterior na FGV movido pelo desejo de conhecer o mundo, viajar, entrar em contato com outras culturas...

... dentro do banco, a realidade era outra: só via escritórios e pressão. 

Decidi mudar de vida e migrei para o setor de equipamentos de cozinha e bebidas. Foi nessa nova fase que, finalmente, consegui realizar aquilo que sempre quis: ter uma vida menos conturbada, com mais cultura, experiências reais e perspectivas humanas além do ritmo sufocante do mercado financeiro.

HISTORIA DO CHEMICAL BANK

O Chemical Bank nasceu em Nova York em 1824 como Chemical Manufacturing Company, e entrou no setor bancário em 1844. Ao longo do século XX, cresceu por meio de incorporações e tornou-se um dos maiores bancos comerciais dos Estados Unidos. Nos anos 1960 e 70, o banco já controlava bilhões de dólares em ativos e se internacionalizava. Em 1969, o Chemical entrou para a história ao instalar o primeiro caixa eletrônico (ATM) do mundo com atendimento automático ao público, em Rockville Centre, Nova York — um marco global.

Chemical foi um dos pioneiros em serviços bancários eletrônicos online. Em 2 de setembro de 1969 instalou o primeiro caixa eletrônico (ATM) em sua agência em Rockville Centre, Nova York. Os primeiros caixas eletrônicos foram projetados para liberar uma quantia fixa de dinheiro quando o usuário inseria um cartão com um código especial.

Na década de 1980, o banco cresceu agressivamente. Em 1981, tinha cifras acima de US$ 80 bilhões em ativos, e passou a buscar expansão em mercados estratégicos, como o Brasil, onde o sistema bancário era fechado ao controle estrangeiro por causa do Artigo 192 da Constituição.

CHEGADA AO BRASIL: O NASCIMENTO DO NORCHEM (1975)

Para entrar no Brasil de forma legal e estratégica, o Chemical estruturou uma joint venture nacional. Assim surgiu o Banco NorChem, fundado em 1975 por Leo Wakace Cochrane e Peter Brenan. A estrutura societária foi montada de forma engenhosa para respeitar a legislação:

Chemical Bank (EUA) — 49,7%
Israel Klabin — 28,3%
Banco Noroeste / capital volante — 22%

Essa engenharia societária evitava o controle direto por estrangeiros (proibido então pela Constituição), permitindo ao Chemical Bank operar indiretamente no Brasil com influência relevante, mas sem o controle majoritário declarado.

Até os anos 1990, o Artigo 192 da Constituição brasileira impedia bancos estrangeiros de operarem diretamente no país, salvo por autorização específica do governo federal. Por isso, mesmo com 49,7% das ações, o Chemical usou o NorChem como ponte legal e estratégica para atuar no mercado nacional. A reforma das regras bancárias e abertura ao capital estrangeiro só começaram após o Plano Real, em meados dos anos 90.

DÉCADA DE 1980 — EXPANSÃO E RELACIONAMENTO INTERNACIONAL

Durante os anos 1980, o NorChem se consolidou como banco corporativo com forte elo com multinacionais, comércio exterior e grandes grupos nacionais, enquanto isso, o Chemical Bank global avançava com cifras expressivas:

Cartões da época, CC e Débito do Banco Noroeste e Chemical Bank

✅ Em 1985, já ultrapassava US$ 120 bilhões em ativos.
✅ Em 1987, entrou para o ranking das 10 maiores instituições dos EUA.

O banco também ganhou notoriedade com iniciativas inusitadas, como o Cee Bee I — um barco bancário que atendia comunidades costeiras de Nova York nos anos 1980, oferecendo todos os serviços de agência, exceto cofres.

O barco do Chemical Bank - Segundo o artigo do Pines History, o barco do Chemical Bank foi criado em 1981 como uma agência bancária flutuante para atender os veranistas da Fire Island Pines, em Nova York. A ideia era oferecer serviços bancários diretamente na marina, onde muitos clientes passavam o verão e tinham dificuldade de acessar agências tradicionais.

ANOS 1990 — NOVOS COMANDOS E MUDANÇAS ESTRATÉGICAS

O Banco NorChem passou por reestruturações importantes nos anos 1990 com Patrick Morin Jr. assumiu como Chairman e Paulo Moraes na posição de CEO.

GEOSERVE 

O Geoserve era a unidade de serviços corporativos e operacionais do antigo Chemical Bank (que mais tarde se fundiu com o Chase Manhattan e, subsequentemente, se tornou parte do JPMorgan Chase).

​O Geoserve foi crucial para transformar o que era tradicionalmente o "back office" de um banco em uma unidade geradora de lucros.

​Funções e Importância do Geoserve:

​Natureza do Serviço: O Geoserve era uma unidade de serviços de informação e transação que atendia o mercado global.

​Serviços Oferecidos: Incluía uma variedade de serviços operacionais para clientes corporativos, como:

-​Gestão de Caixa (Cash Management): Gerenciamento e otimização do fluxo de caixa de grandes empresas.
​-Transferência de Fundos (Funds Transfer).
​-Custódia Corporativa (Corporate Trust).
​-Processamento de Títulos e Valores Mobiliários (Securities Processing).
​-Foco em Lucro: Sob a liderança do Chemical Bank, a unidade Geoserve foi estrategicamente transformada de um centro de custo para um centro de lucro significativo, gerando centenas de milhões de dólares em receitas através de serviços baseados em tarifas (fee-based services).
- ​Base Tecnológica: O Geoserve investia pesadamente em tecnologia para processar um grande volume de transações diárias (cerca de 1,8 milhão de transações/dia em meados dos anos 90), utilizando sua escala e expertise para fornecer serviços de forma eficiente.

Visita de Luiz Pagano ao Geoserve em Buenos Aires - Uma diferença importante entre as viagens que fiz durante minha carreira no mercado financeiro e no setor de alimentos e bebidas é que, naquela época, as viagens eram pagas do meu próprio bolso, aproveitando viagens pessoais para visitar bancos e fazer cursos. No mercado de bebidas, pelo contrário, as empresas pagam por suas viagens e acomodações.

O Geoserve ganhou destaque após a fusão do Chemical Bank com o Manufacturers Hanover, em 1991, quando as operações dos dois bancos foram consolidadas sob esta marca. Após a fusão do Chemical com o Chase Manhattan em 1996 (que resultou no Chase Manhattan Bank), os negócios de serviços de informação e transação do Geoserve foram integrados na nova organização global de banco de atacado (atacado corporativo).

​Em essência, o Geoserve representava os serviços de tesouraria corporativa e processamento de valores mobiliários do Chemical Bank, um pilar que se tornou um componente chave do que hoje é a vasta operação de serviços do JPMorgan Chase.

Nesse período, o banco reforçou sua atuação em crédito corporativo, câmbio e assessoria financeira para empresas brasileiras e multinacionais. Enquanto isso, o Chemical Bank internacional crescia em escala bilionária — e se aproximava de uma das maiores fusões da história financeira.

(28 de agosto de 1995) O Chemical Banking Corporation e o Chase Manhattan Corporation concordaram na segunda-feira (28 de agosto de 1995) em se fundir em uma transação de ações de US$ 10 bilhões. A fusão criou o maior banco dos Estados Unidos na época. Na imagem, Walter V. Shipley, 59, presidente e CEO da Chemical, dando as boas-vindas aos presentes na coletiva de imprensa e falando sobre a fusão, e Thomas G. Labrecque, 56, presidente e CEO da Chase, dizendo que se trata de algo verdadeiramente único;

1995 — A MEGA FUSÃO CHEMICAL + CHASE

Em 28 de agosto de 1995, o Chemical Banking Corporation e o Chase Manhattan Corporation anunciaram a fusão por US$ 10 bilhões em ações. O novo grupo tornou-se o maior banco dos Estados Unidos, com mais de US$ 290 bilhões em ativos, operações em mais de 90 países, forte presença em bancos associados no exterior — como o NorChem no Brasil.

Pouco tempo depois, o nome "Chemical" desapareceu, e a marca consolidada tornou-se Chase Manhattan (hoje parte da JP Morgan Chase), e junto com o nome, meu cargo também desapareceu.

Todos nós tivemos que sentar ao lado do colega que tinha igual tarefa no outro banco e transferir todas as funções antes de ser demitido.

Como estudante de comércio exterior, vi o setor bancário como uma oportunidade de aprender sobre culturas mundiais. Mas foi por meio da comida e das bebidas que realmente aprendi sobre as culturas mundiais, não apenas sobre o interior dos escritórios no exterior.

O processo de reestruturação Pós-Fusão tinha 2 pontos básicos:
​1 - Busca por Sinergia de Custos (eliminando a redundância do seu cargo).
​2 - Transferência de Conhecimento para o colega que permaneceria na nova estrutura, um efeito colateral muito comum e doloroso de grandes fusões bancárias.

​No entanto, essa ruptura foi um alívio necessário. Percebi que o desejo de estudar Comércio Exterior na FGV era movido pela vontade de viajar e conhecer culturas, e não apenas de ver os escritórios de bancos internacionais.

​Finalmente, sai do banco em fevereiro de 1996, decidi mudar minha carreira e fiz a transição para o setor de equipamentos para cozinha e bebidas. Nessa nova fase, consegui realmente atingir meu objetivo: ter uma vida menos agitada, com mais cultura e experiências reais, explorando cidades globais em vez de escritórios globais.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Um Espaço de Cultura e Cauim dentro da Aldeia Indígena


Imagine como seria legal se tivéssemos aldeias indígenas que optassem por sediar uma unidade de produção de cauim contemporâneo em suas próprias instalações?!

A ideia é simples, mas poderosa: criar um espaço onde a cultura material ancestral se entrelace com a hospitalidade, proporcionando a visitantes uma imersão completa na tradição e história de cada povo.

Numa situação imaginária vemos mestres Cauineiros de etnias optantes colocando mosto no tanque de fermentação, com a evolução social nas aldeias, o cauim comercial, diferentemente do cauim ritualístico, pode ser feito por homens. Infewlizmente essa é uma imagem aspiracional - quem sabe um dia veremos essa e outras censa como essa nas aldeias.

Essas unidades poderiam contar com instalações para acolher turistas, compartilhar a história da etnia, apresentar pratos típicos e utilizar o cauim contemporâneo como instrumento para entabular o diálogo cultural. É importante destacar que o cauim contemporâneo não substitui nem invade o espaço do cauim ritualístico, que permanece sagrado e parte de uma tradição espiritual imaterial que respeitamos profundamente.

Em um trabalho multidisciplinar, envolvendo várias culturas, observamos que quando colocamos o cauim dentro de uma garrafa de cerâmica Marajoara de Icoaraci, uma linda formação de cristais esbranquiçados aparece e se espalha majestosamente pela lateral da garrafa.

Ao tornar-se optante, a aldeia receberia todo o know-how técnico da equipe do Cauim Tiakau para montar sua unidade de produção. Não oferecemos apoio financeiro direto, pois a marca ainda está em fase inicial e também busca recursos para promover essa nova categoria de bebida no mercado. Entretanto, colocamos à disposição nosso conhecimento, dedicação e rede de apoio para viabilizar juntos essa iniciativa.

O modelo de produção é simples e acessível: uma dorna de fermentação de no mínimo 100 litros, uma panela de cocção adequada para bebidas fermentadas e um sistema de resfriamento (chiller). O custo médio é de pouco mais de R$ 50.000 – um investimento que pode ser parcialmente revertido com a venda de garrafas de cauim produzidas em cerâmica artesanal local, dentro de uma lógica de lixo zero e baixa emissão ambiental, que ainda pode gerar créditos de carbono.

Nesta cena, vemos uma Cauim Apó Sará — uma das mulheres responsáveis pela produção do Cauim — realizando sua reverência à deusa Mani antes do preparo do Cauim Contemporâneo, num Kaûĩ Apoha (unidade produtora de cauim) de uma aldeia.Trata-se de uma imagem fictícia que representa simbolicamente o templo e os diversos elementos que surgiram ao longo da redescoberta do Cauim nos tempos atuais.No canto superior direito, observamos o Tembi Tarara, o estandarte do Cauim, com seus nichos que representam os sete (ou oito) passos da produção. Ao lado, há um pergaminho com a oração a Mani e, logo à frente vemos pendurado um Tykueryru, ainda sem os tradicionais galhos de pitanga.No chão, ao pé de uma planta de mandioca, estão Maracás cerimoniais enterrados, acompanhados de oferendas, feitas pelos trabalhadores, em honra aos ancestrais e ao espírito da bebida.

Este projeto não visaria transformar um símbolo espiritual em simples mercadoria. Pelo contrário: acreditamos que o cauim pode se tornar um símbolo de resistência cultural e de geração de renda, respeitando os saberes ancestrais e valorizando o que é próprio e sagrado de cada povo. Muitas aldeias hoje sofrem com a perda de áreas de caça, a poluição dos rios, a grilagem e a presença de madeireiros ilegais. E em algumas, a venda de um simples artesanato é tudo o que garante a próxima refeição.

O Surgimento de Uma nova Etapa Cultural

Sim, estamos testemunhando o surgimento de uma nova fase de nossa civilização — um movimento que desponta de forma espontânea, com profundo respeito às tradições e a colaboração ativa das etnias optantes. É como adentrar, ainda com a água nos joelhos, um vasto e promissor oceano cultural, repleto de belezas e oportunidades que apenas começamos a descobrir.

Na sala de crescimento do Koji, técnico conduz o processo de Sabẽ mbeîu moe’ẽ ( o esporo torna o beiju sápido)

Ao longo desse trabalho ainda em fase experimental, muitas vezes ficamos surpresos e admirados com o que nos surge, como novas expressões culturais espontâneas e novas peças simbólicas.

Nesses últimos 20 anos observamos a formação de 'cristais de cauim' que se formam do lado de fora das garrafas de cerâmica, uma peça nova foi criada a partir de um tipiti com galhos de pitanga, uma peça prática que tem o propósito de indicar o grau de amadurecimento do cauim produzido, carinhosamente chamado por um descendente dos Potiguara de Tykueryru, o mesmo o Tembi Tarara, um estandarte com a representação dos oito passos do processo de produção em Tupi Antigo*. 

A esquerda o Tembi tarara, estandarte do cauim com nichos, representando os sete (ou oito) passos para a produção do Cauim no processo tradicional, e o Tykueryru pendurado na frente de uma Kaûĩ apoha (fabrica de Cauim) para avisar o grau de matiridade da bebida. - No sentido horario temos : 1 - Aîpi Kytĩ-ana (descascar a mandioca) , 2 - Ungûá pupé o-îo sok (pilar e ralar a mandioca) , 3 - Tepiti pupé a’e t-y amĩ-î (passar no tipiti) , 4 Mopopur (ferver) , 5 - Aîpi o- su'u su’u I nomu (mastigar e cuspir) , 6 - Haguino (fermentação) , 7 - Mboaruru & Kaura (filtração e clarificação) e 8 - Tîaka-une (vamos beber).

O cauim contemporâneo pode representar um futuro próspero e possível, no qual tradição e inovação caminham lado a lado. Se a sua aldeia quiser abraçar esse caminho, estamos prontos para caminhar juntos.

Quem sabe o próximo item na cultura emergente pode vir de sua iniciativa?

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*Escolhemos adotar o Tupi Antigo como idioma base do processo de produção de cauim por encontrarmos estes nos texto antigos de Lery, Stadem e Anchieta, bem como por ser a língua indígena mais falada antes da proibição do Marquês de Pombal e por ainda estar presente em diversas toponímias e identidades culturais do Brasil. 

Cada etnia optante, no entanto, é livre para traduzir e adaptar esse processo ao seu próprio idioma e contexto. 

Cauim e Ancestralidade

Este artigo é a continuação de um post que escrevi em 2012 neste memso blog, no qual perguntei "como seria o Brasil se a cultura Tupi tivesse superado a cultura portuguesa?" (saiba mais).

Essa pergunta me ocorreu no início dos anos 2000, quando eu ilustrava para a revista Superinteressante, mais precisamente para a seção "Superfantástico", na qual perguntavam "e se..." (Ilustrei "e se pudéssemos nos teletransportar" - edição 175, maio de 2002 e "e se os gregos nunca tivessem existido" edição 175 do mesmo ano).

Essas perguntas me fizeram ciriar o movimento Nova Tupi e o estilo artistico Tupi Pop.

Quando comecei a fazer experiências com o cauim, minha intenção era puramente técnica. Queria desenvolver métodos contemporâneos de produção, explorar a bebida de maneira moderna, sem comprometer seu valor espiritual. Ao meu ver, o cauim dos tempos atuais não precisava — nem deveria — tentar se igualar ao cauim ritualístico ancestral, que merece respeito como algo maior do que uma simples bebida.

No entanto, ao longo do processo, percebi que não seria possível dissociar completamente o cauim de suas raízes sagradas, tal como o sake que é amplamente utilizado nos rituais budistas e xintoístas, o cauim é uma bebida intimamente ligada a espiritualidade brasileira.

Desde o início do projeto, envolvi representantes de diferentes etnias — especialmente Wassu Cocal, Potiguara, Guajajara, Yek'wana e Guarani Mbya — para me orientar tanto na tradução dos métodos para o tupi antigo quanto nas nuances culturais ligadas à bebida. E todos, sem exceção, foram unânimes: o cauim não pode ser separado de sua matriz espiritual.

Utensílios para preparo e degustação de cauim, pote de esporos, frascos e livro com receitas de ugaçaba

Como faço o denominado Cauim do Inhapuambuçu (o cauim dos meus ancestrais da antiga São Paulo de Tibiriçá, anterior a 1500 d.C. ), assumi essa linhagem significava também assumir a responsabilidade espiritual que a acompanha. 

E a questão que surgiu foi: como podemos honrar essa dimensão sagrada de forma verdadeira e respeitosa, dado que o último povo Tupi de São Paulo nos deixou há cerca de 400 anos e os outros se miscigenaram com os atuais 'Paulistanos'?

Para ser bem franco, deixo esta parte para os representantes religiosos das aldeias optantes consagrarem a produção de cauim conforme seus rituais condizentes, a fim de homenagear a Deusa Mani, seus ancestrais e outras entidades pertinentes. Mas, em relação aos meus ancestrais de Inhappuambucu, minha abordagem será diferente.

Deusa Mani e a Capivara - Quadro com moldura de Pau-Brasil. "Em minhas ilustrações Mani sempre aparece com uma capivara, pois além de criador desta história em quadrinhos, eu também fui o criador da Capivara Parade, baseado no movimento artístico Cow Parade".As capivaras são embaixadoras da natureza nos centros urbanos, pois, ao chegar para nadar nos poluídos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo, ou na poluída Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, elas nos mostram que é possível ter sustentabilidade nas cidades brasileiras.

Primeiro no Plano Espiritual, Depois na Terra

Como prova de que os acontecimentos que me levariam ao surgimento do cauim contemporâneo aconteceram primeiro no mundo espiritual e depois como projeção tomaram forma na Terra (como me foi dito por praticamente todos os representantes de todas as etnias com quem conversei), recebi, como gesto de amizade e confiança, um maracá e uma bela acangatara (cocar) com penas de papagaio, de membros da etnia Wassu Cocal.

Por sugestão deles, comecei a decorá-lo com penas de passaros da cidade, posto que a aldeia de Inhapuambuçu fica num dos maiores centros urbanos do mundo, num gesto simbólico dessa ponte entre os tempos, incluindo uma de um pequeno gavião que avistei perto do Parque da Aclimação, bem próximo da casa onde nasci, na Rua Dom Duarte Leopoldo, cuja pena encontrei logo após vê-lo perseguindo um sabiá, e que se tornou a pena principal do meu maracá.

Como o maracá é meu, e somente meu, e tem espírito próprio, segundo sua espiritualidade originária, decorei-o e pintei-o como quis, num ato de proximidade, admiração e respeito.

Pergaminho do Canto à Deusa Mani - Em uma adaptação completa aos dias atuais (já que os antigos povos indígenas nem sequer escreviam, confiando apenas na tradição oral para transmitir seus conhecimentos), o pergaminho é pendurado nas paredes como uma lembrança.

Canto a Mani

O amigo Ariel, estudioso do tupi antigo, escreveu uma canção de louvor a Mani — a entidade associada à origem da mandioca — que costumo cantar antes de cada produção de cauim:

Mani omanõ yby resé toîkó 
oré 'anga rembi'urãmamo.

Mandi'oka asé reté oîopóî; 
kaûĩ asé 'anga oîopóî.

Tradução

‘Mani morreu da vida terrena para virar alimento espiritual do nosso povo’

‘A mandioca alimenta o corpo 
e o Cauim alimenta o espírito’

Glossario em Tupi Antigo

Mani - Deusa Mani da mandioca;
manõ - morte, morrer;
yby - Terra, mundo;
embi-u - (ou emiú) -(t) (s) comida;
asé - a gente; nós (universal);
angá - espírito, alma (eco, sombra);
eté -(t) (s) corpo;
kaûĩ - Cauim;
poî - (îo) almientar, dar de comer;

Transplantação Tupi: Entre o Espiritual e o Cultural

Assim como iniciei a experimentação do uso do koji kin para quebrar o amido da mandioca — inspirando-me nos japoneses, ancestrais genéticos dos povos que teriam cruzado o estreito de Bering, segundo algumas teorias —, também busquei referências em experiências de transplantação religiosa, tal como a da Igreja Messiânica fez para introduzir seus cultos no Brasil, num processo que se chama transplantação.

Autores como Susumu Shimazono e Andrea Tomita explicam como se deu a adaptação de cultos e rituais religiosos em contextos culturais diferentes, utilizando o conceito de transplantação religiosa, desenvolvido por Martin Baumann para descrever a introdução do budismo na Alemanha.

De modo semelhante, nos anos 1950, ocorreu no Brasil um processo de transplantação da Igreja Messiânica Mundial, fundada por Mokiti Okada no Japão, para o contexto brasileiro. Essa migração espiritual envolveu não apenas mudanças de linguagem e rituais, mas também uma aproximação simbólica com aspectos da cultura local.

Curiosamente, há várias coincidências culturais entre os messiânicos e a espiritualidade tupi: um dos conceitos centrais da Igreja Messiânica, por exemplo, é o de que somos a soma de todos os nossos antepassados e que devemos fazer oferendas de alimentos e cantar para eles — ideia que também ressoa com a visão ameríndia de ancestralidade.

Um ambiente de reverência à Deusa Mani dentro de casa ou de uma unidade de produção Cauim, vemos a pintura com uma oração à Mani, o Ietamemuã no centro com um suporte para colocar as Maracas e suas oferendas.

Inspirado por esse paralelismo e rituais budistas como o sambo (altar de oferendas), decidi criar um rito adaptado ao contexto urbano atual. Como não é possível enterrar o maracá no solo das grandes cidades, desenvolvi uma peça simbólica que permite sua fixação dentro de casa — uma estrutura chamada Ietamemuã – uma abreviação de Ietamongaba Karamemuã, nome em tupi antigo para ‘altar de oferendas aos maracás’, inspirado na forma tradicional das oferendas feitas pelos caraíbas da época de Lery.

Em tupi antigo:

Ietamongaba significa "oferta" ou "oferenda";

Karamemuã designa uma "caixa" ou "receptáculo sagrado";

A exemplo de uso, a frase "Aîinhetamong Mani Rese" pode ser traduzida como "Façamos uma oferenda para a Grande Mani".

Esse rito, ainda que contemporâneo, busca respeitar a essência ancestral da prática, criando pontes entre o passado e o presente, entre o sagrado indígena e a vida urbana moderna — sem descaracterizar sua força espiritual.

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E assim, aos poucos, rituais de celebração e respeito aos ancestrais vão surgindo nessa nova cultura que renasce. Não como uma cópia do passado, mas como um tributo vivo, sensível e consciente àquilo que nunca deixou de existir: o espírito do cauim.



segunda-feira, 26 de maio de 2025

Projetos de Luiz Pagano Arte & Marketing


Seria possível mudar a baixa autoestima de uma nação — ou até mesmo reescrever seu destino — por meio da arte, da cultura ou do marketing?

A resposta talvez esteja em nomes que ousaram transformar o mundo com ideias que, no início, pareciam absurdas. Takashi Murakami resgatou o orgulho cultural do Japão pós-guerra através da estética pop e da crítica embutida no movimento Superflat. Yuval Noah Harari ajudou a humanidade a se enxergar de forma nova com histórias bem contadas sobre o passado e o futuro. Santos=Dumont, ao se elegantemente e trazer o voo para a humanidade não apenas inventou uma máquina — ele inventou uma identidade. Thomas Edison não criou apenas lâmpadas, mas acendeu uma era.

Todos eles sabiam que narrativas mudam civilizações. E é essa mesma convicção que move a Blemya, meu projeto de vida.

O Que é Blemya?
Blemya é um projeto artístico e cultural idealizado por Luiz Pagano, que busca resgatar e valorizar a identidade brasileira por meio da arte, cultura e marketing. Inspirado na figura mitológica das "Blemyas" — seres sem cabeça com rostos no peito —, Pagano utiliza essa imagem como metáfora para representar o Brasil como um país que pensa e sente com o coração, unindo emoção e razão.

Símbolo de identidade nacional: A Blemya personifica o povo brasileiro, muitas vezes percebido como diferente ou até mesmo assustador aos olhos do mundo. Pagano enxerga essa diferença como uma oportunidade de transformação, destacando a capacidade do Brasil de integrar sabedoria intuitiva e conhecimento científico.

Influência de Takashi Murakami: Inspirado pelo movimento Superflat de Murakami, que resgatou o orgulho cultural do Japão pós-guerra através da estética pop, Pagano busca criar uma estética brasileira que una elementos tradicionais e contemporâneos, promovendo o "Tupi Pop".

Prospenomics: Conceito desenvolvido por Pagano que propõe uma economia baseada na prosperidade, equilíbrio e inteligência, visando uma sociedade de pós-escassez que valoriza a cultura e a criatividade.

Projeto Py’araku: Termo em tupi antigo que significa "fazer crescer o Deus interior, de alma quente, com um coração quente". Este projeto é uma ferramenta de avaliação e difusão de boas práticas culturais e humanas, promovendo o entusiasmo estruturado para o Brasil. Valorização da cultura indígena: A Blemya busca resgatar e valorizar a cultura indígena brasileira, especialmente por meio do Tupi Pop, criando um novo imaginário nacional capaz de dialogar com o mundo com sofisticação e originalidade.

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Em resumo, Blemya é uma iniciativa que utiliza a arte e a cultura como ferramentas para reescrever o destino do Brasil, promovendo uma identidade nacional mais confiante, criativa e integrada às suas raízes ancestrais.



Logo da Blemya

A Blemya é arte, é marketing, é cultura de resistência, é tecnologia emocional. É um monstro simbólico que não tem cabeça — porque pensa e sente com o peito. Um símbolo do Brasil que ressurge de si mesmo. Um esforço estético e estratégico para fazer do Tupi-pop uma nova lente para o país se enxergar com mais coragem, humor, dignidade e propósito.

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Luiz Pagano com amigos na exposição de Takashi Murakami em Versailles - Setenmbro de 2010

A primeira vez que vi a arte de Takashi Murakami foi no lugar mais improvável: o Palácio de Versalhes, em agosto de 2010. Era uma mistura entre o universo pop japonês e a opulência barroca do palácio, que me causou, num primeiro momento, um certo desconforto — quase como se fosse uma profanação estética. Mas algo naquela provocação me fisgou. Dias depois, folheando o photobook oficial da exposição, com a assinatura do próprio Murakami na capa ( que acabei comprando), tive uma espécie de epifania. Era como se o universo me enviasse um sinal: o que ele fazia com a cultura japonesa, eu poderia — e deveria — fazer com o Brasil.

Inspirado por Murakami que fez flores brotarem em bombas atômicas, pretendo fermentar o cauim no cuspe da baixa autoestima dos vira-latas.


Murakami criou o movimento Superflat, um estilo artístico que rompe fronteiras entre arte erudita e cultura de massa, influenciado por mangás, animes e pela estética gráfica japonesa. Sua crítica à superficialidade da cultura consumista nipônica não é feita de fora, mas sim a partir de dentro — ele a abraça e a ressignifica. Combinando estética pop, produção em escala (com estúdios operando como fábricas) e colaborações com grandes marcas como a Louis Vuitton, Murakami transformou sua arte em marca, e sua marca em símbolo de identidade cultural.

Essa visão foi o estopim para algo que, no fundo, sempre esteve dentro de mim.

Luiz Pagano com amiga na exposição Tupi Pop - Agosto de 2017

Antes disso tudo, em 2007 criei a Blemya Media Group, que nasceu com uma missão ambiciosa: melhorar o Brasil por meio de duas frentes complementares. A primeira é a criação de melhores condições de vida por meio de inteligência, criatividade e tecnologia, estruturada pelo conceito que chamo de Prospenomics, baseado na minha monografia da faculdade — a economia da prosperidade. A recente onda do Blog abriu esse caminho para mim.

Este artigo, junto com tanos outros,  é a continuação de um post que escrevi em 2012 neste mesmo blog, no qual perguntei "como seria o Brasil se a cultura Tupi tivesse superado a cultura portuguesa?" (saiba mais).

Essa pergunta me ocorreu no início dos anos 2000, quando eu ilustrava para a revista Superinteressante, mais precisamente para a seção "Superfantástico", na qual perguntavam "e se..." (Ilustrei "e se pudéssemos nos teletransportar" - edição 175, maio de 2002 e "e se os gregos nunca tivessem existido" edição 175 do mesmo ano).

Todos esses quetionamento me fizeram ciriar o movimento Nova Tupi e o estilo artistico Tupi Pop (saiba mais).

Luiz Pagano pintando em seu estúdio (chamdo de Blemya) - Referências de Murakami e Brecheret servem de código para mudar a autoestima de uma nação.

A segunda é o resgate e a valorização da cultura indígena brasileira, especialmente por meio do Tupi Pop, criando um novo imaginário nacional capaz de dialogar com o mundo com sofisticação e originalidade.


Junto a um grupo de colaboradores improváveis, construímos uma plataforma cultural que conecta ancestralidade com contemporaneidade. Nosso projeto central é o Py’araku, termo em tupi antigo que significa “fazer crescer o Deus interior, de alma quente, com um coração quente” (para referência, a Blemya é um monstrinho fofo que não tem cabeça e, portanto, o coração e o cérebro estão juntos no peito). Py’araku é nossa ferramenta de avaliação e difusão de boas práticas culturais e humanas — uma espécie de “entusiasmo estruturado” para o Brasil, equivalente ao mono no aware japonês ou ao enthousiasmós grego.

Indigenas em Toy Art colecionáveis  - A cada caixa muitas informações e entretenimento. 

Assim como Murakami resgatou o orgulho cultural do Japão em meio ao trauma pós-guerra e à invasão cultural americana, acredito que o Brasil precisa também curar suas feridas internas, usando como código o Tupi de Policarpo Quaresma — especialmente a persistente síndrome de vira-latas, que nos faz admirar apenas o que vem de fora.

Tupi e Brecheret

Outra referência fundamental para mim foi o Tupi de São Paulo — uma presença muito mais viva nos anos 1970, durante minha infância,  do que parece hoje. Explico: lembro com carinho dos passeios com meu pai ao Parque do Ibirapuera. Depois, seguíamos para o Shopping Iguatemi, e ai voltavamos para casa, minha avó assistia a TV Tupi e comíamos mandioca com catupiry. Pode parecer simples, mas ali o Tupi e Brecheret apareciam com naturalidade no meu cotidiano.

Essas referências não estavam em museus distantes, no dia-a-dia, nos nomes, nas paisagens. Por isso, além de Murakami, Brecheret se tornou para mim uma influência obrigatória — ambos me ajudaram a entender que é possível criar uma arte contemporânea com raízes profundas e autênticas.

Foi um grande privilégio e orgulho ter uma das capivaras do Capivara Parade feito com a intervenção de Jaime Lerner (sua equipe), o incrível urbanista que criou, entre outras coisas, o ônibus biarticulado e a capivara biarticulada.

Projetos como a Capivara Parade, em parceria com o Shopping Palladium de Curitiba, e a recriação do cauim através do Tiakau — uma bebida indígena ancestral transformada em símbolo de brasilidade — são expressões práticas desse movimento. São ações que unem arte, cultura, branding e impacto social. São sementes de autoestima plantadas em solo nacional.

Mesmo com recursos limitados, as intenções são grandes. Através da Prospenomics, abrimos caminhos onde arte e identidade nacional caminham juntas, de forma acessível, poderosa e transformadora.

O Mundo é o Que Fazemos Dele

Um amigo me disse, certa vez: “Você já está quase com 60 anos e sua arte não pegou. O cauim não foi pra frente, os Heróis da Bruzundanga venderam de forma pífia, sua estética é considerada ruim, e a única coisa que funcionou — mal — foram as ilustrações da Superinteressante, os poucos quadros vendidos e a Capivara Parade... Desista.” Naquele momento, suas palavras soaram como uma verdade dura e inevitável.

Luiz Pagano no estúdio 'Blemya', pintando sua Capivara para o Capivara Parade de Curtiba - 2016

Mas, com o tempo, percebi que essa visão é limitada. Sim, é natural querermos que nossa arte seja vista, compreendida e acolhida. Talvez a minha não seja agradável aos olhos da estética dominante, nem se encaixe nos moldes atuais do mercado. Mas esse é justamente o preço de andar na contramão — e eu aceito pagá-lo.

Porque, no fundo, eu não faço arte para agradar. Faço para comunicar. Faço para que a mensagem ressoe em quem estiver pronto para ouvi-la. Chris Langan, com sua teoria CTMU, afirma que o universo é uma constante interação entre múltiplas consciências. E a minha consciência — por mais teimosa que pareça — está presa a uma missão clara: traduzir o Brasil profundo por meio do Tupi Pop.

É nisso que acredito. É isso que me move. Porque o mundo não é o que os outros dizem que ele é. O mundo é o que fazemos dele.

Projetos sob o guarda-chuva Py’araku

0. Prospenomics (1988) — Quando Tudo Começou


A semente da Prospenomics foi plantada em 1988, durante minha monografia na UNIFIEO — minha verdadeira alma mater. Digo isso com convicção, mesmo sabendo que muitos torcem o nariz para a instituição, presos à síndrome de vira-latas que insiste em desvalorizar tudo que é brasileiro e fora dos grandes centros consagrados. Mas foi lá que tive a honra de ser orientado pelo Professor Decano Antônio Pacheco Mercier, um dos educadores mais brilhantes e íntegros que já conheci.

A proposta da monografia era ousada: usar a ficção científica como ferramenta para repensar a economia e a administração pública. Inspirado por “Star Trek” e pelos mundos visionários de Júlio Verne, imaginei sistemas prósperos, éticos e sustentáveis — um exercício de futuro aplicado ao presente, que viria a se tornar o embrião da Prospenomics, a “economia da prosperidade” Saiba mais.

A UNIFIEO, afinal, tem uma história que poucos conhecem e muitos ignoram. Foi fundada por Amador Aguiar, criador do Bradesco — um dos maiores bancos do Brasil — e está fincada na cidade de Osasco, berço do primeiro voo motorizado da América Latina, feito por Dimitri Sensaud de Lavaud, verdadeiro gênio pioneiro do século XX. Esses fatos são apagados pela nossa própria falta de autoestima nacional, mas são pedras fundamentais de um Brasil que acredita em si mesmo.

Prospenomics nasce desse espírito: uma resposta criativa e crítica à cultura do fracasso, com o sonho realista de um país que se reinventa com inteligência, arte e coragem.

Logo do Tupi Pop

1. Tupi-Pop (Início dos anos 1990)
Estilo artístico criado por Luiz Pagano para promover o amor ao Brasil, inspirado na forma como os japoneses valorizam sua cultura. A própria font usada tem referências japonesas e tupi.

Conecta elementos indígenas e japoneses como raízes espirituais comuns Saiba mais.

1.1 alfabeto Tupi- Pop

Desde pequeno, lembro-me de um alfabeto estranho que encontrei entre os livros do meu avô. Ele era um tropeiro de Leopoldina, Minas Gerais, e, assim como eu, tinha grande admiração pela cultura brasileira, principalmente tupi.


Decidi adaptar esse alfabeto para a minha arte, já que o alfabeto também desempenha um papel fundamental na autoestima de um povo, como bem observou o rei coreano Sejong.

O rei Sejong mudou profundamente a história coreana com a introdução do alfabeto Hangul. Antes da criação do alfabeto Hangul, apenas membros da classe alta eram alfabetizados. Sabendo que os sacerdotes não permitiriam que o alfabeto sagrado fosse alterado, ele decidiu usar um truque para enganá-los, escreveu com uma substância doce em folhas de pandamus, para que as formigas as comessem em padrões pré-determinados.

Alfabeto Tupi Pop de Luiz Pagano

Ele mostrou as marcas aos sacerdotes e disse-lhes que os deuses haviam enviado um novo sistema de escrita - voilà! Um novo alfabeto, muito mais simples, foi institucionalizado (saiba mais).



2. Blogs – Ame o Brasil (2007)

Plataforma de ativação com base na filosofia Angatú ("de alma boa").

Em "Ame o Brasil", a premissa é simples: para amar é preciso conhecer. Quem conhece cuida; quem ama, cuida. Esse projeto nasceu do desejo de recontar as histórias e lendas que formam o imaginário nacional, preservando nossa identidade e inspirando novas expressões artísticas.

Importante que se diga que não tem nada a ver com a campanha política dos anos 1970.

Na época, utilizamos um novo canal de blogs para dar voz a narrativas esquecidas e redescobrir contos que corriam o risco de se perder no tempo. Um exemplo marcante foi a recontagem da lenda da Gruta da Sununga, em Ubatuba ou a história dos sambaquis—a partir delas, os mistérios e tradições se entrelaçaram com o universo da Toy Art indígena, lançando novos olhares e interpretações sobre nossa cultura.

"Ame o Brasil" é, portanto, um convite: ao mergulhar nessas histórias, o leitor se reconecta com as raízes do país, reconhecendo que, ao conhecer, surge a responsabilidade de cuidar e preservar. Essa reconexão não só fortalece o orgulho nacional, mas também alimenta uma revolução cultural, transformando lendas em arte e, assim, contribuindo para a construção de um Brasil mais consciente, belo e, sobretudo, amado.
Logo da Capivara Parade

3. Capivara Parade (2008), Realizada em (2016) — Arte, Resistência e Solidariedade

A Capivara Parade nasceu quado eu passava de trem pelas águas poluídas do Rio Pinheiros, em São Paulo. A pergunta que surgiu foi: como esses animais conseguem sobreviver nesse ambiente degradado? Essa imagem se tornou um símbolo da resiliência e adaptabilidade da fauna brasileira frente à urbanização desenfreada.

Luiz Pagano na abertura do Capivara Parade de Curitiba - Junho de 2016

Inspirada na Cow Parade de Pascal Knapp, a Capivara Parade foi um dos artigos do blog (Saiba mais), junto com a Lenda da Capivara Paulistana e quadros do memso tema, concebida como uma homenagem à resistência das capivaras nos rios urbanos. A iniciativa ganhou vida em 2016, em Curitiba, por meio de uma parceria entre o Shopping Palladium e o estúdio Fábrica, de William Batista. O projeto contou com a participação de diversos artistas e personalidades, como o urbanista Jaime Lerner, que criou a "Capivara Biarticulada" em alusão ao sistema de transporte coletivo que implementou na cidade, e o humorista Diogo Portugal, que apresentou a "Risoleta", uma capivara comediante. Outros artistas envolvidos incluíram Dani Heining, Di Magalhães, Luiz Pagano, Juarez Fagundes e designers 

A exposição foi composta por oito esculturas de capivaras em fibra de vidro, com 1 metro de altura e 1,5 metro de largura, pintadas e customizadas pelos artistas participantes. Inicialmente exibidas no Shopping Palladium, as obras posteriormente percorreram diversos pontos turísticos de Curitiba, como a Boca Maldita, Praça Santos Andrade, Praça Rui Barbosa, Jardim Botânico, Mercado Municipal e Parque Barigui. 

O projeto teve um caráter beneficente, com o leilão das esculturas revertendo R$23.000,00 para a Campanha do Agasalho de Curitiba, evidenciando o poder transformador da arte aliada à solidariedade. 

A Capivara Parade exemplifica como a arte pode ser uma ferramenta poderosa para conscientização ambiental e engajamento social, promovendo a valorização da cultura brasileira e incentivando ações em prol de um país mais justo e sustentável.



4. Indígenas e Orixás em Toy Art (2008)

O projeto "Indígenas e Orixás em Toy Art" surgiu de uma constatação pessoal: meu filho conseguia nomear quase uma centena de personagens de Pokémon, mas mal reconhecia dez etnias indígenas brasileiras. Essa disparidade evidenciou a necessidade de criar ferramentas lúdicas que aproximassem as crianças da rica diversidade cultural do Brasil.

Indigenas em Toy Art colecionáveis  - A cada caixa muitas informações e entretenimento. 

Inspirado por essa percepção, desenvolvi uma linha de 'toys colecionáveis' (saiba mais) que representassem mais de 240 etnias indígenas, com pesquisa elaborada num trabalho que já dura uma vida, pois desde pequeno pesquiso e desenho essas etinas. 

Tem também os orixás das religiões de matriz africana, personágens como Lampião e lendas como o Saci Pererê - todos na forma de Toy Art. A ideia era simples, mas poderosa: só se protege o que se ama, e só se ama o que se conhece. Ao transformar essas figuras em brinquedos acessíveis e atrativos, buscava-se fomentar o interesse e o respeito pelas culturas originárias do país.

Caixa de Toy Art Ashaninka

O projeto "Indígenas e Orixás em Toy Art" também se insere nesse contexto de resgate e valorização cultural, utilizando o lúdico como meio de educação e conscientização. Ao transformar elementos culturais em brinquedos, busca-se não apenas entreter, mas também educar, promovendo o conhecimento e o respeito pelas diversas culturas que compõem o Brasil.

Essa iniciativa é um passo na construção de uma sociedade mais inclusiva e consciente de sua diversidade, onde as crianças crescem reconhecendo e valorizando as múltiplas identidades que formam o tecido social brasileiro.

Logo do Projeto Kauin

5. Cauim – Diálogo e Cultura Através da Bebida (2010)

Cultura líquida como ferramenta de transformação

O projeto Cauim nasceu da união entre duas grandes paixões que moldam minha trajetória: o Brasil — com sua complexa trama de culturas originárias — e o universo das bebidas, que carrega em si séculos de história, trocas e civilização. 

Luiz Pagano usando a camiseta do Projeto "Kauin" e  作永ひかる(Hikaru Sakunaga)

O cauim, bebida fermentada ancestral dos povos tupis, foi por muito tempo invisibilizado — tratado como curiosidade antropológica ou folclore exótico. O objetivo aqui é outro: resgatá-lo como ativo contemporâneo, etílico-gastronômico e cultural, com potencial para inaugurar uma nova categoria de bebidas autênticas, ligadas ao território, ao saber indígena e aos biomas brasileiros.

Este projeto não é apenas sobre bebida, é sobre pertencimento e autonomia. Ao estimular a produção do cauim dentro das aldeias — respeitando rituais, ingredientes e conhecimentos locais — buscamos gerar renda, visibilidade e protagonismo para culturas indígenas optantes que desejam se projetar no mercado com sua própria narrativa. É uma forma de ativar uma economia cultural conectada ao passado, mas com os olhos voltados para o futuro.

Lançar uma nova categoria de bebidas é raro. Fazer isso a partir de uma bebida nativa, com raízes tão profundas, é uma oportunidade de reescrever o mercado e, ao mesmo tempo, contribuir para a valorização e a preservação de culturas e ecossistemas inteiros.

Cauim Contemporâneo não é apenas uma bebida: é um convite ao diálogo. É uma ponte líquida entre civilizações.

Logo do Cauim Tiakau

5.1 Tiakau (2016)

Tiakau, que em tupi antigo significa “vamos beber”, é a marca atual que consolida uma trajetória de pesquisa e paixão em torno do cauim — bebida fermentada ancestral dos povos indígenas brasileiros.

Garrafa de Cauim Tiakau - Grandes restaurantes brasileiros como DOM, Mocotó e Banzeiro são obrigados a servir vinhos europeus para harmonizar com pratos brasileiros elaborados - o cauim Tiakau surge como a solução perfeita para esse problema: desenvolvemos um cauim premium, uma bebida sofisticada 100% mandioca e 100% brasileira.

O projeto ganhou forma a partir de experiências práticas que realizei ao lado da Sommeliere de sake Grande amiga 作永ひかる (Hikaru Sakunaga), especialista na fermentação japonesa e na produção de bebidas tradicionais como o sake e o shōchū. Em uma viagem ao Japão, aprofundei meus estudos no método koji kin, buscando compreender como as técnicas milenares japonesas de fermentação poderiam dialogar com a mandioca, ingrediente sagrado dos povos originários brasileiros.

Luiz Pagano e Hildo Sena produziram um lote inical de Cauim Tiakau - 100% Mandioca - Novembro de 2023

Esse intercâmbio cultural e técnico deu origem ao Tiakau, uma bebida que respeita o espírito do cauim tradicional, mas que também inova ao aplicar rigor científico e métodos controlados de fermentação, maturação e envase. O projeto ganhou força com a associação ao engenheiro Hildo Sena, com quem fundei a marca Cauim Tiakau (saiba mais)

Tiakau não é só uma bebida. É uma nova categoria dentro do mercado de bebidas artesanais — com potencial etílico, gastronômico e simbólico. Une duas paixões: o Brasil profundo, com sua riqueza de biomas e tradições, e o mercado de bebidas, com sua capacidade de criar cultura líquida, gerar valor e promover transformações sociais.

Mais do que uma retomada, Tiakau é um convite: vamos beber para celebrar, para lembrar, para reconectar — com a terra, com o sagrado, com a nossa própria história.
Antes se chamava Caraúna (folha parda, alusão ao dinheiro), e evoluiu com o foco na experiência cultural e valorização indígena.

Logo do Projeto Tembiu


6. Tembi’u – Gastronomia em Tupi Antigo (Abril 2015)

O Projeto Tembi’u (que em tupi significa "comida" ou "aquilo que se come") nasceu de uma inquietação comum: como valorizar a riqueza dos ingredientes amazônicos e inseri-los com dignidade e protagonismo na coquetelaria brasileira?

Luiz Pagano e a equipe de mixologistas da Pernod Ricard: Rafael Mariachi, James Guimarães e Alan Souza trouxeram mais de 110 ingredientes da floresta amazônica para o evento da Absolut Flavors, que reuniu Gastronomia e coquetelaria - Projeto Tembiu

Em parceria com a Pernod Ricard Brasil, e com verba institucional da vodka Absolut, reuni-me aos mixologistas Jamesm Guimarães, Alan Souza e Rafael Maricachi em uma expedição criativa e sensorial rumo à Amazônia. Lá, sob a orientação dos irmãos Thiago e Felipe Castanho, chefs do lendário restaurante Remanso do Peixe, de Belém, mergulhamos no território, nos mercados, nas aldeias e nos quintais amazônicos.


Foi uma jornada de pesquisa e escuta — mais do que trazer ingredientes exóticos ao copo, queríamos entender o que eles significavam para os povos da região. O jambu, por exemplo, que hoje aparece em drinks Brasil afora por seu efeito anestésico e sua excentricidade sensorial, foi um dos elementos que resgatamos, junto a tucupi negro, priprioca, bacuri, castanha-do-pará, entre outros.

Esse movimento, pioneiro na coquetelaria nacional, ajudou a romper a lógica de importação de tendências e ingredientes e inaugurou um novo olhar sobre o Brasil como território de inovação — a partir da sua própria biodiversidade e ancestralidade.

Mais do que criar receitas, o Projeto Tembi’u ajudou a lançar uma tendência: a da coquetelaria de pertencimento, onde o copo conta histórias e carrega o gosto de um país complexo, vivo e potente.

Logo dos Heróis da Bruzundanga


7. Heróis da Bruzundanga (HQ)

Os Heróis da Bruzundanga, uma HQ Tupi Pop, é uma releitura dos textos críticos e satíricos de Lima Barreto — especialmente de sua obra Os Bruzundangas e Triste Fim de Policarpo Quaresma — transformada em uma narrativa visual voltada ao público jovem, mas com camadas de reflexão que dialogam com todas as idades.

Lançamento da HQ Os Heróis da Bruzundanga na Livraria Cultura - 2017

Neste universo alternativo, o Brasil é um país próspero, belo e repleto de potencial. Já a Bruzundanga representa o seu oposto: um espelho distorcido do Brasil real, corroído por corrupção, má administração e desvalorização cultural. É nesse cenário que surgem os Heróis da Bruzundanga: personagens que, munidos da força simbólica da Cultura Tupi-Pop, enfrentam inimigos inusitados e provocadores, como Fujoshi, o Exército das Formigas e os Tupi-Rerekoara — uma seita radical canibal que distorce os valores originários.

A HQ é mais do que entretenimento: é uma ferramenta crítica e criativa para discutir o Brasil de forma acessível, satírica e, ao mesmo tempo, esperançosa. Com uma estética original que mistura grafismos indígenas, cultura pop e uma narrativa dinâmica, a série visa reconstruir o imaginário coletivo nacional, oferecendo aos leitores histórias que nunca nos contaram na infância — mas que deveriam ter contado.

A proposta é clara: usar a ficção como força transformadora. Criar um laço entre arte, crítica social e identidade nacional. Os Heróis da Bruzundanga são parte fundamental da costura de um Brasil alternativo e próspero — onde conhecer e amar o país é o primeiro passo para protegê-lo e transformá-lo.

Outros Projetos Associados

Blog A Maravilhosa Vida de Santos=Dumont (saiba mais) : para inspirar jovens a valorizarem a ciência e a se orgulharem do Brasil por meio de um herói nacional.

Nasceu do desejo de resgatar o orgulho nacional por meio da valorização de um dos maiores gênios que o Brasil já teve: Alberto Santos=Dumont. Muito além de ser o “pai da aviação”, Dumont representa o espírito criativo, visionário e generoso que o brasileiro pode — e deve — cultivar em si mesmo.

O Prêmio Mérito Homem Voa criado por Luiz Pagano em 2016, em Tóquio, e agraciado pelo Insittuto Cultural Santos Dumont (saiba mais) , que celebra brasileiros e estrangeiros que, com suas ideias e ações, elevam a imagem do país e mostram que voar é possível — no sentido literal e no simbólico. 

Luiz Pagano - criado do Prêmio Mérito Homem Voa

O primeiro homenageado foi a equipe da Revista Agora, da primeira classe da Japan Air Lines, entre eles Yasuyuki Ukita, um descendente de Kōkichi Ukita (浮 田 幸 吉, 1757 - 1847) o premiado foi o neurocientista Miguel Nicolelis, por seu trabalho inovador e humanista que conecta ciência, tecnologia e impacto social.

Professor Nicolelis recebendo o Prêmio Mérito Homem Voa, das mãos de sobrinhos-bisnetos do Aviador

O objetivo do blog é claro: estimular jovens a sonhar alto, investir na ciência, se inspirar nos heróis brasileiros e reconstruir o senso de orgulho por nossa história e nosso potencial. Com linguagem acessível e temas que dialogam com tecnologia, cultura e inovação, “A Maravilhosa Vida de Santos Dumont” mostra que o futuro do Brasil pode — e deve — ser grandioso. Basta que a gente reconheça o que já somos capazes de fazer.

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Promover o respeito e a admiração pelas coisas do Brasil — suas culturas, seus biomas, seus povos originários e saberes — é uma tarefa que exige mais do que talento ou boas ideias. É preciso insistência, coragem e, acima de tudo, amor. Projetos como o Cauim Tiakau, a Capivara Parade, os Heróis da Bruzundanga, entre tantos outros que compartilhei aqui, nascem de uma visão artística e de marketing que se propõe a ir além da estética: buscam tocar consciências, reencantar o olhar sobre o que é nosso.

Capivara Parade - sonho que se realiza nas ruas de Curitiba - Junho de 2016

Confesso que muitas vezes é difícil transformar essas ideias em realidade. A distância entre o mundo ideal que carrego na mente e o mundo real é imensa — e por vezes frustrante. Mas sigo acreditando que é possível construir um Brasil mais admirado por seus próprios habitantes, por meio da cultura, da bebida, da arte, do riso e da história contada de um novo jeito.

Se você leu até aqui e algo disso ressoou em você, te peço uma coisa simples, mas poderosa: me ajude a divulgar esse trabalho. Curta, compartilhe, fale sobre ele. Porque só se protege o que se ama — e só se ama o que se conhece. Vamos fazer o Brasil se reconhecer e se respeitar. Juntos.


 

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