quarta-feira, 10 de março de 2021

Cauim, Anjo Ismael e a alma coletiva do Brasil

Cachoeira Dourada do Anjo Ismael - desenho de Luiz Pagano - Paulo Wassu Cocal

 “O CAUIM é a bebida da formação da alma coletiva do povo brasileiro, ela já existe no plano astral e você só tem a importante incumbência de trazê-la para o plano dos homens” disse Paulo Wassu Cocal numa consulta espiritual sobre o CAUIM.

Não tenho duvida que o CAUIM tenha um forte aspecto espiritual para o Brasil, comparável ao vinho da eucaristia cristã e o saquê do Xintoísmo Japonês. Más como saber qual papel o CAUIM terá na espiritualidade brasileira? De que forma será usado no rituais? Para qual religião servirá? – Perguntei a ele.

Um privilégio que não poderia se encerrar em mim, precisei mostrar para outros brasileiros, para outras muitas pessoas a riqueza q se esconde nas florestas. Surgiu primeiro no plano espiritual, através da arte. Inspiração da espiritualidade ancestral e sincrética, que mesclou as origens pré Beringia, Ásia e Japão, o estudo do TUPI-ANTIGO, textos de Anchieta, múltiplas viagens, pesquisa com mais de 250 etnias, a criação de arte é até uma caligrafia específica, depois disso, transformar amido em açúcares, a fermentação e por fim, a criação do sabor - tudo pré determinado por espíritos ancestrais.

Segundo Paulo, não preciso ter essas preocupações no momento, pois “o anjo tutelar do Brasil já resolveu todas essas questões no plano astral, muito antes da chegada dos portugueses, e tudo acontecerá em seu próprio bom tempo”. 

Ouvi palavras muito similares em outras consultas com pajés de mais duas outras etnias e em seções espiritas em minha busca. Más quem será esse ‘Anjo Tutelar do Brasil’?

Para responder a essa questão, recorri a literatura e conversas com amigos espiritualizados, bem como membros de algumas aldeias do Brasil. 

Existe no Brasil uma infinidade de cosmologias e entidades, que diferem de etnia para etnia, de aldeia para aldeia, más para minha surpresa, parece haver convergências de idéias e conceitos entre elas. Diferentes doutrinas brasileiras compartilham entidades, como o ‘Pai Tupã’, por exemplo, presente nas tradições indígenas, cristãs de catequização, e até mesmo no kardexismo, no candomblé e na umbanda. Uma outra entidade com essa característica é o Anjo Ismael.

Contos Tupiniquim e Tupinambá antigos parecem mencionar o Anjo Ismael sob o nome de Sumiê, também associado a São Tomé em alguns relatos jesuíticos, um deus de pele branca e cabelos vermelhos (ruivo ou loiro) responsável por levar o conhecimento civilizatório às  tribos de etnias Tupi e cuidar de sua proteção. Sumié também é mencionado em outras etnias, Kupe-ki-kambleg entre os Apinagés, Mairatá, entre os Tapi do Maranhão e Maré entre os Aimorés, sempre descrito como um homem branco, que apareceu a muito tempo atrás, portador de cabelos claros e que veio com importante papel no desenvolvimento civilizatório.

O nome Ismael aparece pela primeira vez como o guardião do Brasil no ano de 1873, numa reunião do grupo de Estudos Espíriticos Confúcio, dirigido por Antônio da Silva Neto e por Francisco Leite de Bittencourt Sampaio. Lá a entidade se revelou dizendo-se guia espiritual do país, com o nome de Ismael e pediu que a doutrina espírita deveria ser abordada com prioridade nos aspectos religiosos, tendo como base os quatro evangelhos.

Caligrafia Tupi-Pop de Luiz Pagano

Carlos Campetti, em sua entrevista na FEB TV dá as primeiras explicações sobre o anjo Ismael, sua importância no Brasil e traça sua origem no livro do Gêneses, capítulo 16. 

Na bíblia Ismael surge como sendo o filho de Abraão com a escrava Hagar, concebido por ordem de Saraí, sua esposa, por ser infértil. Anos mais tarde, Saraí inesperadamente concebe outro filho, Isaac, deteriorando fortemente sua relação com a escrava e seu filho. 

Saraí pede desesperadamente então a Abraão que se livre de Hagar e Ismael, que abatido com o dilema, resolve ter uma conversa com Deus, que por sua vez, o tranquiliza, revelando a ele que Ismael viria a se tornar o líder de uma grande nação estrangeira (o Brasil).

O Ismael bíblico é considerado por estudiosos espíritas como o mesmo descrito pelo espírito Humberto de Campos no livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”. O anjo teria evoluído espiritualmente e perdido as falhas morais e psicológicas adquiridas a milênios atrás, como é a destinação natural dos espíritos segundo a doutrina. Humberto Campos relata ainda que ele é, atualmente, um dos mais comprometidos trabalhadores do Cristo, consciente do seu papel, que na verdade se iniciara desde sua última encarnação no plano terrestre.

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Quadro do Anjo Ismael na Casa de Chico Xavier - Luiz Pagano e Eurípedes - Dez 2011

Ao final dessa pesquisa, lembrei-me que havia visto uma foto do anjo Ismael na casa de Chico Xavier, numa visita que havia feito ao centro Espirita Prece, em dezembro de 2011. Ao buscar a imagem no aplicativo de fotos, me dei conta de uma incrível ‘coincidência’ – visitei a casa de Chico Xavier no dia 08 de dezembro de 2011 e logo após 3 dias, no dia 11 de dezembro foi quando tive meu primeiro contato com o CAUIM numa aldeia indígena, num episódio que ascendeu minha curiosidade em níveis sem precedentes.

Anjo Ismael e a Família Real, quadro de Alexandra Herman na casa de Chico Xavier


Nessa época, trabalhava na Pernod Ricard e fazia treinamentos por todo o Brasil, aproveitei minha estada em Uberaba para conhecer a casa do homem santo, e lá trabalhei por uma noite como voluntário no refeitório, ajudando Eurípedes, filho adotivo de Chico Xavier a cozinhar e servir para os necessitados. 

Luiz Pagano e Jane na Aldeia Rio Silveiras - Dez 2011

Três dias depois, num domingo, passeava com minha esposa no litoral norte quando resolvemos visitar a reserva indígena Rio Silveiras, dos Guaranis M’byas. Lá compramos artesanato, conversamos com as crianças e eu fiquei super curioso ao saber que estavam fazendo um ritual, ao qual obviamente não fora convidado, numa oca fechada – vi pelas frestas da entrada que tomavam uma bebida, perguntei se podia ver de perto e fui impedido – somente vim a participar de uma cauinágem dois anos depois, e hoje, quase dez anos depois, estou aqui, pronto a lançar o primeiro CAUIM comercial.

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Jornada de Proteção do Anjo Ismael em Tupi Antigo - Texto traduzido por alunos do Professor Eduardo Navarro

Ismael karaibebegûasu ’ytuberápe aîasuk, gûiîepoxy’oka.
Brasil rupikatu, ’ara rupikatu bé aîeekomonhang
Maria abá bykagûere’yma o asoîaboby pupé xe aso’i,
Opá mba’e rasy suí, opá ’angekoaipaba suí bé xe pysyrõmo
Îesu morombo’esara irũnamo tetamaŷsó rupi agûatá,
Tupã opakatu mba’e tetiruã monhanga e’ikatuba’e robaîtîamo ko’yté.

Tradução

Na cachoeira brilhante de Ismael, o grande anjo, eu me banho, tirando minha imundície (me banho e me purifico).
Muito em conformidade com o Brasil, muito em conformidade ao mundo
(me coloco em harmonia com o Brasil é com o mundo,)

A Virgem Maria me cobre com seu manto azul, me protegendo de todas dores e aflições;

Com Jesus, aquele que instrui pessoas, por terras formosas eu caminho, finalmente encontrando D'us, aquele que todas e quaisquer coisas consegue criar.


A Cachoeira Dourada do Anjo Ismael por Luiz Pagano, abaixo os dizeres "Ismael karaibebegûasu ’ytuberápe aîasuk, gûiîepoxy’oka" em Tupi Antigo com caligrafia própria - tradução 'Na cachoeira dourada do Anjo Ismael, me banho e me purifico"

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Fecho esse artigo com a importante mensagem mediúnica que reafirma Ismael na liderança do projeto,  psicografada pelo espírito de Manoel Miranda para mim:

“...o Cauim ratifica a missão específica de Ismael para com o Brasil, assinalada por Jesus, de implementar em nosso país o seu Evangelho e espalhá-lo daqui para o mundo. 

Imerso nesse processo evolutivo, iniciado no momento de sua formação, primeiramente por indígenas, que nos brindaram com o conhecimento da terra, revelado pelo espírito da Mãe Mani Fértil, alimento de dois planos, a posteriori por africanos, povos sedentos da justiça divina, a expressão evoluída das aflições ao conceder o grande perdão e celebrar a grande amizade, e por fim pelo homem das múltiplas pátrias, que ora fez sofrer, por caminhos tortuosos e hora trouxe avanços do ciência, em meio a escravidão e a exploração desmedida.

Reserva Indígena Rio Silveiras Boraceia - SP

Juntos, esses bravos povos se redimem, se unem e revelam a alma da terra, como semelhantes trabalham, cuidam da fauna, da flora e da própria luz natural, no árduo processo de labuta e autoavaliação, rumo a evolução de uma grande nação.

O Cauim surge nesse plano como importante instrumento evolutivo, para formação da alma coletiva do nosso povo, isento de diferenças – É a concretização do caminho espiritual planejado para o Brasil em seu primeiro estágio, pátria do Evangelho, onde o Ser Humano, em constante processo evolutivo, aprenderá pouco-a pouco, a respeitar o meio ambiente, em trabalho harmônico, também a dirimir diferenças. 

O Cauim é a luz do coração, que brilha na essência do ser, que promove as mudanças do tesouro alvo da terra, da mente de D’us na alma dos homens...”. 

quinta-feira, 4 de março de 2021

Dia do Anhangá no Anahngabaú 17 de Julho

 

Celebrações ao deus Anhangá, no Vale do Anhangabaú 
Culturas antigas dos colonizados foram obliteradas pelos colonizadores, mas não foram totalmente esquecidas, é muito comum ver num provo que decide se reinventar e se re-amar, acordar suas crenças e até mesmo o seu idioma, como aconteceu com a língua hebraica, que após ter sido usada por mais de 1700 anos, essencialmente como veículo de expressão literária escrita e de orações,  foi revitalizada e integrada de forma viva e em uso com o restabelecimento do Estado judeu.
Em celebração a nossa cultura original brasileira, caracterização antropomórfica do Deus Anhangá na forma da bela jovem albina de olhos de fogo.

Tendemos a gostar do Halloween e da cultura americana, mas nós temos nossas próprias bruxas para cultuar, por exemplo o Saci…há quem defenda, "o halloween é uma festa antiga, é comemorada há mais de 2.500 anos e surgiu entre os celtas, que acreditavam que no último dia do verão (do hemisfério norte), 31 de outubro, os espíritos dos mortos saiam dos cemitérios para tomar os corpos dos vivos". O costume teria sido levado pelos imigrantes irlandeses para os EUA e incorporado ao All Hallows Even (véspera do Dia de Todos os Santos), dando origem ao Halloween.

São Paulo é a maior e mais prospera capital da America do Sul nos dias de hoje, assim como São Paulo de Piratininga foi centro da Américas antigas, com trilhas que levavam a toda parte do continente, verdadeiras auto estradas para o caminhante que ao ira além do Pico do Jaraguá, os protetores do vale, podiam chegar às lendárias terras do eldorado do Perú, como a mítica trilha do Peabirú.
Tibiriçá e João Ramalho discutem o futuro da Vila de São Paulo de Piratininga sob a magia das estrelas com a montanha sagrada do Inhapuambuçu ao fundo c.1556 - Com a chegada das Ordens Beneditinas, Carmelitas e Franciscanas as tradições ancestrais dos Tupiniquim desaparecem - a  remoção da icônica pedra do Inhapumabuçu representa o esforço de apagar a religião antiga da memória para dr inicio às novas.

No lugar onde hoje temos o Páteo do Collégio, próximo ao povoamento de Tibiriçá,  uma montanha sagrada que dava nome a aldeia, Inhapuambuçu (do Tupi-Antigo i(nh)apu'ãm-busú o grande cume ou y(nh)apu'ãm-busú o grande ponto do rio) mas com a chegada das Ordens Beneditinas, Carmelitas e Franciscanas as tradições ancestrais dos Tupiniquim desapareceram - a  remoção da icônica pedra do Inhapumabuçu representa o esforço de apagar a religião antiga da memória para dr inicio às novas.

No delta de dois importantes rios, o Anhangabaú e o Tamanduateí, temos o que hoje chamamos de triângulo histórico, mas que época era conhecido como o triângulo sagrado. Os nomes em Tupi-Antigo de lugares nessa localidade mostram um pouco de como a cidade era naquele tempo - O próprio nome da cidade, Piratininga que em Tupi significa "peixe seco", revela que os rios eram vivos e tinham muitos peixes, muitos deles morriam nos alagadiços do Carmo (onde é hoje o largo Dom Pedro) secavam ao sol e eram devorados pelas já famosas formigas do Brasil, que por sua vez atraia os belos tamanduás bandeira, daí o nome Tamanduateí ( do Tupi-Antigo tamanduá te y - rio do Tamanduá).

O outro rio ficava num vale que era alimentado pelo córrego do Itororó, que descia da maravilhosa floresta do Ka'a Guatá (hoje conhecida como Avenida Paulista), esse rio que descia por onde é hoje a Avenida 23 de Maio, desembocava no córrego do Anhangabaú, que também tinha uma linda vegetação protegida pelo Anhangá, o deus Tupi das Caças e da natureza.
Tupiniquins de Piratininga observam o lindo e poderosos Deus Anhangá

O Anhangá é comumente retratado como um veado branco, de tamanho atroz, com olhos vermelhos da cor de fogo. Ele é o protetor da natureza e persegue todos aqueles que caçam de forma indiscriminada, desrespeitam a natureza e pune quem caça filhotes ou matrizes que estão nutrindo suas crias e poluem suas águas.

O vale do rio Anhangabaú era sagrado, os habitantes de Piratininga faziam cultos e festas para deixar o deus mais feliz e menos vingativo. Hoje nós não só afogamos o rio do Anhangá, como também nos esquecemos do espírito mor de nossa cidade. Desprezarmos nossas tradições tupiniquins dessa forma é imperdoável!
Essa seria a vista da Praça do Mosteiro de São Bento se a montanha sagrada do Inhapuambuçu ainda existisse. Historiadores discutem a hipótese de que os Franciscanos, Carmelitas e Jesuítas decidiram aterrar esse importante marco religioso da aldeia de Tibiriçá no Triângulo de Piratininga para apagar todo e qualquer vestígio da religião ancestral indígena.

De outubro em diante começa a temporada das chuvas em SP e o D’us Anhangá certamente virá vingar-se daqueles que esconderam seu riu com concreto e asfalto, alagando nossas ruas, derrubando nossas árvores nos carros e casas. Se adotássemos a cultura #TUPIPOP , teríamos comemorações em celebração ao ANHANGÁ no dia do meio ambiente, talvez com uma parada no vale do Anhangabaú.

Xe Anhangá [gué/îu]!
Aîkugûabeté kó temi'u
Aîkugûabeté xe/oré remi'u

FAÇO AQUI UMA CONVOCAÇÃO A TODOS!!

Que tal celebrarmos o dia do Anhangá no DIA 17 DE JULHO, DIA DO PROTETOR DA MATA.

Vamos ao Vale do Anhangabaú em procissão, beber muito Cauim, para acordar e celebrar aquele deus que adormeceu debaixo do asfalto, literalmente coberto pela cultura dos outros, dos colonizadores portugueses.

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TEXTO COMPLEMENTAR

O Curupira, também conhecido como Caipora, Caiçara, Caapora, Anhanga ou Pai-do-mato, todos esses nomes identificam uma entidade da mitologia tupi-guarani, um protetor das matas e dos animais silvestres.é legalmente reconhecido como protetor das nossas matas

Foi através do projeto de lei 558 de 1968, apresentado pela deputada Dulce Salles Cunha Braga, que se propôs o Curupira como símbolo estadual de guardião e protetor das florestas e dos animais que nela vivem. O projeto de lei determinava ainda que o símbolo do Curupira seria difundido nas escolas de graus primário e médio e que a Secretaria da Agricultura e da Educação deveriam tomar as providências no sentido de difundir o Curupira como protetor da flora e fauna. Em 9 de julho de 1970 Dulce reapresentou o projeto de lei, agora com número 40.
Estátua do Curupira no Horto Florestal de São Paulo

Em agosto daquele ano, o deputado Solon Borges dos Reis recomendou que o projeto fosse aprovado pela casa. Entre as justificativas, escreveu que “diariamente nos jornais temos notícias de atos criminosos no sentido de devastar a nossa flora e a fauna, apesar da proteção que o estado oferece. É importante, a fim de pôr paradeiro a esses atos criminosos, educar as nossas crianças, mostrando-lhes os aspectos positivos da preservação forçosa da natureza e da fauna, tão necessárias à vida do homem”.

Em primeiro de setembro de 1970, a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou o projeto de lei, que foi promulgada em 11 de setembro de 1970 pelo Governador Roberto Costa de Abreu Sodré instituiu o Curupira com o Símbolo Estadual de Guardião e Protetor das Florestas e dos animais.

A primeira imagem do Curupira no Horto 

Em 21 de setembro de 1970, foi inaugurado pelo governador o monumento ao Curupira no Horto Florestal de São Paulo, atualmente designado Parque Estadual Alberto Löfgren. A estatueta foi doada pelo prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Duarte Nogueira, feita a partir de uma estátua do Curupira existente no bosque Fábio Barreto, naquele município.

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