domingo, 16 de agosto de 2020

Decisões vs Repercussões - Será que conseguimos curar o mundo do coronavirus sem deixar o planeta ainda mais doente?

Decisões vs Repercussões - Será que conseguimos curar o coronavirus sem deixar o planeta ainda mais doente?
Tente se lembrar de como você aprendeu a jogar xadrez, se você fez como eu fiz, começou criando estratégias particulares para tentar tomar o rei do adversário, bem como proteger suas peças durante o jogo. Pode até ser que esse aprendiz faça um ou outro movimento brilhante, mas a grande maioria deles refletirão sua inexperiência em movimentos ruins e inconsequentes.

read this article in English

Neste momento, estamos diante de uma crise sem precedentes que exige um modelo de tomada de decisões sem precedentes, assim como o aprendiz de xadrez acima, o mundo inteiro tenta se proteger da contaminação do coronavírus até que se encontre uma cura e/ou vacina, uma das melhores formas de fazer isso é usar máscaras ou outro EPI (equipamento de proteção individual) de plástico. No que diz respeito às máscaras, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, houve um aumento na produção e nas vendas até o momento, que chega a espantosos 20.000%.

É curioso que, diante de um problema sério e sem precedentes, pareçamos negligenciar as repercussões de uma decisão. A solução encontrada no momento parece ser o melhor curso de ação, mas depois mostra-se fraca, com apenas um passo de alcance repercussivo, com consequências mal ou totalmente antecipadas e no final, nos dá pouca ou nenhuma margem para correções de efeitos colaterais.

Por que isso acontece?

O cérebro humano processa 11 milhões de bits de informações sensoriais a cada segundo, mas apenas 40 a 120 delas sobem à mente consciente para serem avaliados e racionalizadas. Nosso cérebro opera com uma quantidade limitada de energia, como qualquer outra entidade na natureza, adotando o curso de ação mais rápido e eficiente, programamos em nossas mentes a antecipação de acontecimentos, a fim de estarmos preparados para eles.

Quando crianças e saíamos de casa, nossas mães falavam: "Leva o agasalho!", mesmo sabendo que eu vivia em um país tropical eu ouvia muito isso. Esse tipo de advertência pode vir da repercussão de várias gerações de mães anteriores à minha, que possivelmente perderam seus filhos inadvertidamente para a hipotermia.

Isso tem suas vantagens, imagine entrar em uma selva e ser forçado a avaliar cada fóton de luz recebido, tentando discernir se existe perigo por trás de cada uma das 20.500 folhas da árvore ao redor como rãs ou insetos venenosos, sem falar em cobras, grandes felinos e outros predadores. Levaria dias antes de darmos nosso primeiro passo e seriamos facilmente devorados por eles.

Quando entramos na tal floresta, nossas mentes optam por avaliar os riscos que podem realmente nos prejudicar, resultantes de informações que podem ter vindo de relatos de sobreviventes ou aprendizagem pessoal de visitas anteriores a essa floresta, reduzindo as dezenas de milhares de avaliações de perigo pertinentes para apenas as 20 mais perigosas deles - como abelhas, cobras e onças (você pode até ser atingido por um meteorito em uma floresta, mas as chances de isso acontecer são tão baixas que não faz parte do 'plano de prevenção de risco mental projetado para essa floresta específica ').

Isso pode ter nos ajudado muito nos tempos pré-históricos, mas com o grande volume de decisões que o mundo moderno nos expõe, essa primitiva tomada de decisão tem se mostrado insuficiente.
Numa escala de 01 à infinito, podemos medir o quanto uma decisão tomada pode repercutir no futuro, onde nível 01, é totalmente inconsequente, gerando toda sorte de acontecimentos indesejados, aumentando exponencialmente para nível 10, uma decisão com certo grau de ponderação, sem grandes efeitos colaterais futuros e uma racionalização determinista (hipotética) na qual todas as contingências foram antecipadas, restando somente efeitos bem desenhados e prosperos, precisamente calculados.

Foram necessários 4,5 bilhões para o homem se destacar dos demais seres vivos graças às recém-adquiridas habilidades lingüísticas, racionais e de planejamento, para ter o papel de protagonista no planeta, porém, ainda nos comportamos como o aprendiz de xadrez citado acima, ainda cometemos erros ingênuos e atrapalhados, que se não forem bem observados, pode levar a sérias repercussões no equilíbrio da vida na Terra.

Às vezes uma ou outra pessoa com percepção acima da média antecipa um ou mais graus de repercussões na tomada de decisão, o que pode nos afastar do cenário de total inconseqüência avançando para sonhado estagio de determinismo integral, (situação hipotética em que todas as contingências são antecipadas, criando perfeitas tomadas de decisão). Infelizmente, nem sempre, essas pessoas estão no circuito oficial dos tomadores de decisão, ou quando estão, não são fortes o suficiente para serem ouvidos, revelando-nos um outro defeito do ser humano que é muito prejudicial na tomada de decisões, as dificuldades psicológicas de lidar com os sentimentos como ego, medo, insegurança no trabalho e arrogância.

Como devemos tomar nossas próximas decisões?

É evidente que já temos algumas ferramentas que nos ajudam a tomar decisões frente a situações complexas e inusitadas. No caso da administração pública, por exemplo, escolhemos o expediente de adotar partidos políticos e criar antecipações de direita, esquerda e centro - isso ajudou muito os políticos de direita identificarem riscos para a hierarquia social, família e a pátria, enquanto os políticos de esquerda a reagem mais eficazmente aos riscos e violações dos direitos dos desfavorecidos na sociedade.

Esse modelo pode ter funcionado no passado, mas como no aforismo do elefante na sala, tomar decisões considerando parte do todo como verdadeira é retrógrado e muito simplista. Precisamos de um modelo mais amplo, democrático e menos auto-serviente do que o atual.

Se combinarmos várias ciências aprendidas até o momento destinadas a um propósito definido, digamos ... administração pública, talvez possamos criar um sistema de avaliação e tomada de decisão mais consistente com o mundo atual:

- Podemos usar as redes sociais e APPs para incluir uma vasta gama de especialistas, com o propósito formular soluções possíveis, abrangendo múltiplos pontos de vista, de especialistas de vários setores, com opiniões de pessoas qualificadas, criando um 'ambiente de ampla participação - wiki', aumentando estatisticamente o número e a qualidade de soluções finais possíveis;

- Sistemas de inteligência artificial combinados com um banco de dados histórico de tomadas de decisão anteriores, somados às múltiplas soluções obtidas na proposição acima, poderiam testar alternativas em milissegundos e nos dar resultados de eventos em vários níveis, antecipando não apenas dois ou três, mas múltiplos previsões de repercussões;

- Os psicólogos poderiam avaliar e monitorar os tomadores de decisão final, criando um painel mais abrangente e menos contaminado com o vies do gosto pessoal, para que tomem decisões que efetivamente melhorem a comunidade;

Se agirmos rapidamente, e usarmos um pouco mais de nossas capacidades civilizatórias, ainda podemos ter tempo para encontrar uma solução plausível para o desequilíbrio causado pelos resíduos plásticos no planeta, curar a humanidade do coronavírus e ainda gerar um inesperado benefício extra para a vida na Terra.

Referências 

Blech, C. & J. Funke (2010). You cannot have your cake and eat it, too: How induced goal conflicts  affect complex problem solving, Open Psychology Journal 3, 42–53. Duncker, K. (1945). On problem solving. Psychological Monographs, 58. Funke, J.  & P. A. Frensch (2007). Complex problem solving: The European perspective –  10 years after, in D. H. Jonassen (ed.), Learning to Solve Complex Scientific Problems, Lawrence Erlbaum, New York, 25–47. Funke, J. (2010). Complex problem solving: A case for complex cognition? Cognitive Processing, Vol. 11, 133–142. Klieme, E. (2004). Assessment of cross-curricular problem-solving competencies, in J. H. Moskowitz, M. Stephens (eds.), Comparing Learning Outcomes. International Assessment and Education Policy, Routledge Falmer, London, 81–107. Koncepční rámec řešeni problémů PISA 2012. ČŠI: Praha   Kupisiewicz, Cz. (1964). O efektívnosti problémového vyučovania. Bratislava: SPN. Lerner, I. J. (1986). Didaktické základy metod výuky. Praha: SPN. Linhart, J. (1976). Činnost a poznávání. Academia.  Praha. Linhart, J. (1982). Základy psychologie učení. Praha: SPN. Maťuškin, A. M. (1973). Problémové situácie v myslení a vo vyučování. Bratislava: SPN.  Mayer, R.  E. &  M. C.  Wittrock  (1996).  Problem  Solving Transfer,  in R.  Calfee,  R. Berliner  (eds.),  Handbook of  Educational Psychology, Macmillan, New York, 47–62. Mayer, R.  E. &  M. C.  Wittrock  (1996).  Problem  Solving Transfer,  in R.  Calfee,  R. Berliner  (eds.),  Handbook of  Educational Psychology, Macmillan, New York, 47–62. Mayer, R. E. (1990). Problem solving, in  W. M. Eysenck (ed.), The Blackwell Dictionary of Cognitive Psychology,  Basil Blackwell, Oxford, 284–288. Mayer, R. E. (1998). Cognitive, metacognitive, and motivational aspects of problem solving, Instructional Science, Vol. 26, 49–63. Nakonečný, M. (1998). Základy psychologie. Praha: Academia. Okoň, W. (1966) K základům problémového učení. Praha: SPN.

sábado, 15 de agosto de 2020

SÃO PAULO - A CAPITAL MUNDIAL DA CALÇADA FEIA

SÃO PAULO - A CAPITAL MUNDIAL DA CALÇADA FEIA

Imagine uma vila que não tivesse uma liderança centralizada, sem prefeito ou alcaide! Agora imagine que essa vila vive nos primórdios da chegada das lâmpadas elétricas, todos ficam entusiasmados com a revolução e decidem colocar luminárias voltadas para a rua, pois assim, todos enxergariam as ruas durante a noite.

read this article in English

Teríamos um problema aqui e ali, pois sempre tem aqueles que querem se beneficiar da luz sem colocar a mão no bolso, ou aquele outro que, por diversão, gosta de jogar uma pedra para quebrar a lâmpada, são os chamados vândalos, más são casos isolados.

Nesse cenário se justifica então pagar um IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) para a prefeitura, uma administração centralizada, nos dispor esse serviço básico e especifico, descrito por David Hume em 1734 para explicar que, uma vez arrecadado, a prefeitura, deve ser totalmente responsável pelo mobiliário urbano de uso coletivo – No entanto, aqui em São Paulo, nenhum prefeito ou eleitor desde os anos 50 ouviu falar dele...

Não estamos cogitando nem a hipótese de trocar as calçadas e as luminárias existentes, somente a mera manutenção bastaria, será que é tão caro assim?

Em 1927, a São Paulo Tramway, Light and Power Company Ltda, simplesmente chamada de LIGHT pelos paulistanos, assinou um contrato com a prefeitura e o governo estadual para reforma da rede de iluminação pública da cidade e belos postes de luz no estilo inglês foram implantados.
Lindos postes da Light tipo 16 

Esses postes da LIGHT, junto com as lindas calçadas com pisos que formam o contorno fronteiriço do estado de São Paulo, logo se transformaram em ícones da cidade.

As lindas luminárias da LIGHT estão se deteriorando em ritmo acelerado e a pergunta que todo mundo que passa por essas ruas faz é "é verdade que a cidade não tem dinheiro para manter esse ponto básico de toda a teoria da arrecadação de impostos?", a resposta é "Sim, mas muito se perde na corrupção e na inépcia".

Esses postes da LIGHT, junto com os belos pavimentos com azulejos que formam o contorno da divisa com o estado de São Paulo, logo se tornaram ícones da cidade. Porém, uma lei inusitada determina que os moradores sejam responsáveis por suas calçadas, causando péssimas repercussões.

Os moradores decidem individualmente como cada calçada deve ser, transformando a cidade em uma feia colcha de retalhos. E como se não bastasse, a manutenção não é feita, os buracos e elevações provocados pelas raízes de árvores e plantas fazem os caóticos mosaicos de fendas e fendas. destroços, Pedregulho.

A ordem e a beleza dos postes, calçadas e outros elementos urbanos têm um papel que vai além de sua finalidade funcional principal; devemos sentir o orgulho de nossos símbolos urbanos. Mas, no caso de São Paulo, representam a falta de cuidado e a ausência da administração pública. Quando um poste de luz ou uma calçada são danificados, o cidadão sente pena de sua própria cidade, isso é ruim de mais.

É a chamada teoria das janelas quebradas "broken windows theory" , um modelo norte-americano de política de segurança pública no combate ao crime, tendo como visão fundamental a desordem como fator de elevação dos índices da criminalidade. Nesse sentido, apregoa tal teoria que, se não forem reprimidos, os pequenos delitos ou contravenções conduzem, inevitavelmente, a condutas criminosas mais graves, em vista do descaso estatal em punir os responsáveis pelos crimes menos graves. Torna-se necessária, então, a efetiva atuação estatal no combate à criminalidade, seja ela a microcriminalidade ou a macrocriminalidade.

Ao ver uma calçada bem preservada, você se sente apoiado e protegido por sua cidade, inspira cidadania e respeito. Alguém de bom senso e civilidade nunca jogaria papel, bituca de cigarro ou chiclete nessa calçada  - pelo menos a probabilidade estatística de isso acontecer seria muito pequena. Se nos casarmos com uma política de multas e pequenas punições, a situação melhoraria muito.
Não seria melhor ter uma calçada assim? a resposta é SIM - mas aqui em São Paulo os gestores públicos ainda estão em dúvida
Em 24 de janeiro de 2019, o prefeito Bruno Covas promulgou o Decreto nº 58.611, que visa uniformizar as calçadas de São Paulo, essa iniciativa está no caminho certo, mas continuar a responsabilizar total ou parcialmente o morador pela sua manutenção ainda é um dos piores erros que a cidade vem comentando - transferir responsabilidade só porque não tem dinheiro não justifica a violação da principal teoria de arrecadação de imposto municipal x manutenção e benfeitorias urbanas, postulada em 1735.

Blemia Powered by Google

Google