Mudamos o nome do blog de Ame o Brasil para *Tupinista* porque os pontos de contato do projeto — especialmente o *logo* — precisavam refletir com mais precisão o conteúdo que realmente apresento: cultura tupi, história indígena, símbolos ancestrais e a essência original do território.
O nome Ame o Brasil era amplo e genérico. Ele não comunicava a identidade profunda que o blog desenvolveu ao longo do tempo. Tupinista, por outro lado, é direto, específico e alinhado ao propósito.
A mudança também acompanha a renovação visual do blog.
Ao analisar o manto tupiniquim, reparei que a base é formada por penas pretas que criam padrões gráficos. Usei esses desenhos como referência estrutural para o novo logo. As cores do símbolo também vêm das aves que compõem o próprio manto: o vermelho do Guará (Eudocimus ruber) e o azul escuro da Araruana (Anodorhynchus hyacinthinus).
O resultado é um blog com uma identidade mais precisa, clara e autêntica, onde texto, símbolo e propósito falam a mesma língua: a língua das raízes tupis.
O Tupinismo Voltou.
Por muito tempo, o Brasil negligenciou suas raízes indígenas mais profundas. Elementos fundamentais da cultura tupi foram silenciados pela colonização e pelas políticas posteriores que buscavam “portugalizar” o território. O caso mais emblemático é o do Marquês de Pombal, que expulsou os jesuítas e combateu diretamente o uso da língua tupi, acelerando o desaparecimento de práticas, saberes e símbolos tradicionais. O tupinismo renasce como um movimento de retomada cultural, reafirmando a força estética, espiritual e histórica dos povos tupis. E nenhum símbolo representa melhor esse retorno do que o Manto Tupinambá.
O manto é uma das peças mais extraordinárias de toda a América indígena.
Construído com até 4.000 penas vermelhas de guará, araruna e outras aves, o manto era usado em cerimônias de status, de guerra e de passagem espiritual e signo de poder. Esses mantos eram confeccionados por artesãos altamente especializados, com técnicas de amarração e entrelaçamento que impressionam até hoje museólogos e etnógrafos. Cada peça podia levar meses ou anos para ficar pronta.
Como o manto foi parar na Dinamarca
Os registros apontam que diversos mantos tupinambás deixaram o Brasil entre os séculos XVI e XVII - Ainda Bem, se tivessem ficado por aqui teriam sido destruidos por portugueses.
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| Na foto vemos artefatos tupinistas que Luiz Pagano criou para produzir o Cauim Tiakau, um cauim contemporâneo, bebida que foi proibida nos centros urbanos junto com a antiga língua tupi e que só agora, após 500 anos, retorna, levando essa antiga bebida tupi a todos os povos brasileiros. Luiz Pagano é descendente de 16 gerações do cacique Tibiriça e Bartira. |
O manto que estava na Dinamarca é mencionado já no início de 1600, fazendo parte da chamada Kunstkammer (“câmara de maravilhas”) da monarquia dinamarquesa — coleções privadas onde reis reuniam objetos raros, fósseis, moedas, arte sacra, instrumentos e artefatos de povos distantes.
O registro mais antigo conhecido desse manto aparece em inventários datados de 1610˜1620, indicando que ele já estava na Europa apenas décadas após os primeiros contatos entre colonizadores e tupinambás.
A peça foi preservada por séculos no Nationalmuseet, o Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague, sendo considerada uma das joias da coleção etnográfica global.
Durante todo esse período, o Brasil permaneceu distante de seu próprio patrimônio.
A repatriação
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| Preseidente e indígenas recebem o manto tupinambá Foto: Ricardo Stuckert / PR |
O retorno do Manto Tupinambá ao Brasil, em 2024, foi celebrado em uma grande cerimônia no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que reuniu lideranças e membros do próprio povo ao qual o artefato pertence. Estiveram presentes a cacica Jamopoty e um grupo numeroso de cerca de 170 tupinambás vindos de Olivença, na Bahia, que viajaram especialmente para acompanhar o reencontro com esse ancestral sagrado. Durante o evento, o manto foi recebido com cantos, danças e rituais tradicionais, tratados como a volta de um ser vivo, e não apenas de uma peça histórica. A presença dessas lideranças reforçou o caráter espiritual e político desse retorno, que simboliza a retomada de uma memória interrompida, o reconhecimento da história tupi e a valorização dos direitos indígenas no Brasil.



