quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Deveríamos ou não falar o Tupi-Guarani no Brasil?


Toy Art de Policarpo Quaresma por Luiz Pagano - personagem da obra de
Lima Barreto

"Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma - usando do direito que lhe confere a constituição, vem pedir que o congresso nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.”

Triste Fim de Policarpo Quaresma é um romance do pré-modernismo brasileiro escrito por Lima Barreto publicados, entre Agosto e Outubro de 1911, na edição da tarde do Jornal do Comercio do Rio de Janeiro.


O clima no Tribunal foi muito tenso:
- Excelência (juiz): Em vista destas considerações, o requerente, Policarpo Quaresma, usando do direito que lhe confere a Constituição vem pedir que o Congresso Nacional, decrete o idioma indígena tupi-guarani como língua oficial do povo brasileiro.
- Isto é um absurdo Vossa Excelência, este homem é um louco!
- Isso é ilegal!
- Vossa Excelência, onde nós estamos? Na casa do povo ou em um Manicômio?!
- Excelência (juiz): Silêncio Senhores! Silêncio!
- Policarpo Quaresma: Excelentíssimo! Chenennhenga jaruçaba. Eu peço a palavra.
- Palavra negada! O senhor não é deputado.
- Palavra concedida. É um cidadão contribuinte. Afinal, isto aqui não é a casa do povo?
- E o senhor é um canalha! Eu vou lhe quebrar a cara.
- Excelência (juiz): Com a palavra, o cidadão Policarpo Quaresma, autor da proposta.
- Policarpo Quaresma: Vossa Excelência, nobres deputados cidadãos brasileiros. A língua é a mais alta manifestação da inteligência de um povo e sua criação mais viva e original e, certamente, a emancipação política de uma nação exige uma libertação idiomática!
- Eu discordo! Língua de índio não liberta ninguém! Não pode ser escrita. Não vai ter mais jornal nem livro.
- Todos: É isso mesmo!
- Excelência (juiz): Silênciooo!
- Policarpo Quaresma: A língua portuguesa é emprestada ao Brasil. A língua tupi-guarani não! É criação dos que viveram e ainda vivem aqui. Por isso é capaz de traduzir as nossas belezas aproximarmos da natureza, adaptando-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais e cerebrais.
- Vossa Excelência, eu por acaso não estou nu. Ninguém nesta sala está nu. Então porque falar a mesma língua desses selvagens?
- Índio: Canalha! Sou descendente dos guaranis che! Meu bisavô era cacique! A influência dos índios e muito positiva para os brasileiros!
- (todos): Ahhh! Senta aí! Fique quieto!
- Policarpo Quaresma: A língua dos índios é a verdadeira língua brasileira! Cupiçaba Nengaopaba. Cupiçaba nengaopaba!!
- (todos): Esse homem é louco! Tirem-no daqui, vá falar língua indígena no hospício!
- Excelência (juiz): Levem-no daqui.
[Enquanto levam Policarpo, ele diz: A língua indígena é língua brasileira! Anguie Pindorama! Sou índio, sou negro, sou brasileiro!]
Cartoon de Policarpo Quaresma por Luiz Pagano 


Assim Policarpo entra na historia como Brasileiro que mais ama o Brasil.
Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá encontrar meios para realizar semelhante medida, Blemya ensina aqui a primeira lição – o verbo ser e estar em sua conjugação.

Os verbos ‘ser e estar’ como verbos de ligação, não têm correspondentes em tupi. Junta-se simplesmente o pronome sujeito ao predicado. Êste pode ser substantivo, adjetivo, pronome ou advérbio:

xe marangatu: eu (sou) bom
nde marangatu: tu (és) bom
i marangatu: êle (é) bom
iandé ou ore marangatu: nos (somos) bons
pe marangatu: vós (sois) bons
i marangatu: êles (são) bons 

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