Toy Art de Policarpo Quaresma por Luiz Pagano - personagem da obra de Lima Barreto |
"Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma - usando do direito que lhe confere a constituição, vem pedir que o congresso nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.”
Triste Fim de Policarpo Quaresma é um
romance do pré-modernismo brasileiro escrito por Lima Barreto publicados, entre
Agosto e Outubro de 1911, na edição da tarde do Jornal do Comercio do Rio de Janeiro.
- Excelência (juiz): Em vista destas
considerações, o requerente, Policarpo Quaresma, usando do direito que lhe
confere a Constituição vem pedir que o Congresso Nacional, decrete o idioma
indígena tupi-guarani como língua oficial do povo brasileiro.
- Isto é um absurdo Vossa Excelência,
este homem é um louco!
- Isso é ilegal!
- Vossa Excelência, onde nós estamos?
Na casa do povo ou em um Manicômio?!
- Excelência (juiz): Silêncio
Senhores! Silêncio!
- Policarpo Quaresma: Excelentíssimo!
Chenennhenga jaruçaba. Eu peço a palavra.
- Palavra negada! O senhor não é
deputado.
- Palavra concedida. É um cidadão
contribuinte. Afinal, isto aqui não é a casa do povo?
- E o senhor é um canalha! Eu vou lhe
quebrar a cara.
- Excelência (juiz): Com a palavra, o
cidadão Policarpo Quaresma, autor da proposta.
- Policarpo Quaresma: Vossa
Excelência, nobres deputados cidadãos brasileiros. A língua é a mais alta
manifestação da inteligência de um povo e sua criação mais viva e original e,
certamente, a emancipação política de uma nação exige uma libertação
idiomática!
- Eu discordo! Língua de índio não
liberta ninguém! Não pode ser escrita. Não vai ter mais jornal nem livro.
- Todos: É isso mesmo!
- Excelência (juiz): Silênciooo!
- Policarpo Quaresma: A língua
portuguesa é emprestada ao Brasil. A língua tupi-guarani não! É criação dos que
viveram e ainda vivem aqui. Por isso é capaz de traduzir as nossas belezas
aproximarmos da natureza, adaptando-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais e
cerebrais.
- Vossa Excelência, eu por acaso não
estou nu. Ninguém nesta sala está nu. Então porque falar a mesma língua desses
selvagens?
- Índio: Canalha! Sou descendente dos
guaranis che! Meu bisavô era cacique! A influência dos índios e muito positiva
para os brasileiros!
- (todos): Ahhh! Senta aí! Fique
quieto!
- Policarpo Quaresma: A língua dos
índios é a verdadeira língua brasileira! Cupiçaba Nengaopaba. Cupiçaba
nengaopaba!!
- (todos): Esse homem é louco!
Tirem-no daqui, vá falar língua indígena no hospício!
- Excelência (juiz): Levem-no daqui.
[Enquanto levam Policarpo, ele diz: A
língua indígena é língua brasileira! Anguie Pindorama! Sou índio, sou negro,
sou brasileiro!]
Assim Policarpo entra na historia
como Brasileiro que mais ama o Brasil.
Seguro de que a sabedoria dos legisladores
saberá encontrar meios para realizar semelhante medida, Blemya ensina aqui a
primeira lição – o verbo ser e estar em sua conjugação.
Os verbos ‘ser e estar’ como verbos de
ligação, não têm correspondentes em tupi. Junta-se simplesmente o pronome
sujeito ao predicado. Êste pode ser substantivo, adjetivo, pronome ou
advérbio:
xe marangatu: eu (sou) bom
nde marangatu: tu (és) bom
i marangatu: êle (é) bom
iandé ou ore marangatu: nos (somos) bons
pe marangatu: vós (sois) bons
i marangatu: êles (são) bons
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