Cachoeira Dourada do Anjo Ismael - desenho de Luiz Pagano - Paulo Wassu Cocal |
“O CAUIM é a bebida da formação da alma coletiva do povo brasileiro, ela já existe no plano astral e você só tem a importante incumbência de trazê-la para o plano dos homens” disse Paulo Wassu Cocal numa consulta espiritual sobre o CAUIM.
Não tenho duvida que o CAUIM tenha um forte aspecto espiritual para o Brasil, comparável ao vinho da eucaristia cristã e o saquê do Xintoísmo Japonês. Más como saber qual papel o CAUIM terá na espiritualidade brasileira? De que forma será usado no rituais? Para qual religião servirá? – Perguntei a ele.
Segundo Paulo, não preciso ter essas preocupações no momento, pois “o anjo tutelar do Brasil já resolveu todas essas questões no plano astral, muito antes da chegada dos portugueses, e tudo acontecerá em seu próprio bom tempo”.
Ouvi palavras muito similares em outras consultas com pajés de mais duas outras etnias e em seções espiritas em minha busca. Más quem será esse ‘Anjo Tutelar do Brasil’?
Para responder a essa questão, recorri a literatura e conversas com amigos espiritualizados, bem como membros de algumas aldeias do Brasil.
Existe no Brasil uma infinidade de cosmologias e entidades, que diferem de etnia para etnia, de aldeia para aldeia, más para minha surpresa, parece haver convergências de idéias e conceitos entre elas. Diferentes doutrinas brasileiras compartilham entidades, como o ‘Pai Tupã’, por exemplo, presente nas tradições indígenas, cristãs de catequização, e até mesmo no kardexismo, no candomblé e na umbanda. Uma outra entidade com essa característica é o Anjo Ismael.
Contos Tupiniquim e Tupinambá antigos parecem mencionar o Anjo Ismael sob o nome de Sumiê, também associado a São Tomé em alguns relatos jesuíticos, um deus de pele branca e cabelos vermelhos (ruivo ou loiro) responsável por levar o conhecimento civilizatório às tribos de etnias Tupi e cuidar de sua proteção. Sumié também é mencionado em outras etnias, Kupe-ki-kambleg entre os Apinagés, Mairatá, entre os Tapi do Maranhão e Maré entre os Aimorés, sempre descrito como um homem branco, que apareceu a muito tempo atrás, portador de cabelos claros e que veio com importante papel no desenvolvimento civilizatório.
O nome Ismael aparece pela primeira vez como o guardião do Brasil no ano de 1873, numa reunião do grupo de Estudos Espíriticos Confúcio, dirigido por Antônio da Silva Neto e por Francisco Leite de Bittencourt Sampaio. Lá a entidade se revelou dizendo-se guia espiritual do país, com o nome de Ismael e pediu que a doutrina espírita deveria ser abordada com prioridade nos aspectos religiosos, tendo como base os quatro evangelhos.
Caligrafia Tupi-Pop de Luiz Pagano |
Carlos Campetti, em sua entrevista na FEB TV dá as primeiras explicações sobre o anjo Ismael, sua importância no Brasil e traça sua origem no livro do Gêneses, capítulo 16.
Na bíblia Ismael surge como sendo o filho de Abraão com a escrava Hagar, concebido por ordem de Saraí, sua esposa, por ser infértil. Anos mais tarde, Saraí inesperadamente concebe outro filho, Isaac, deteriorando fortemente sua relação com a escrava e seu filho.
Saraí pede desesperadamente então a Abraão que se livre de Hagar e Ismael, que abatido com o dilema, resolve ter uma conversa com Deus, que por sua vez, o tranquiliza, revelando a ele que Ismael viria a se tornar o líder de uma grande nação estrangeira (o Brasil).
O Ismael bíblico é considerado por estudiosos espíritas como o mesmo descrito pelo espírito Humberto de Campos no livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”. O anjo teria evoluído espiritualmente e perdido as falhas morais e psicológicas adquiridas a milênios atrás, como é a destinação natural dos espíritos segundo a doutrina. Humberto Campos relata ainda que ele é, atualmente, um dos mais comprometidos trabalhadores do Cristo, consciente do seu papel, que na verdade se iniciara desde sua última encarnação no plano terrestre.
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Quadro do Anjo Ismael na Casa de Chico Xavier - Luiz Pagano e Eurípedes - Dez 2011 |
Ao final dessa pesquisa, lembrei-me que havia visto uma foto do anjo Ismael na casa de Chico Xavier, numa visita que havia feito ao centro Espirita Prece, em dezembro de 2011. Ao buscar a imagem no aplicativo de fotos, me dei conta de uma incrível ‘coincidência’ – visitei a casa de Chico Xavier no dia 08 de dezembro de 2011 e logo após 3 dias, no dia 11 de dezembro foi quando tive meu primeiro contato com o CAUIM numa aldeia indígena, num episódio que ascendeu minha curiosidade em níveis sem precedentes.
Anjo Ismael e a Família Real, quadro de Alexandra Herman na casa de Chico Xavier |
Nessa época, trabalhava na Pernod Ricard e fazia treinamentos por todo o Brasil, aproveitei minha estada em Uberaba para conhecer a casa do homem santo, e lá trabalhei por uma noite como voluntário no refeitório, ajudando Eurípedes, filho adotivo de Chico Xavier a cozinhar e servir para os necessitados.
Luiz Pagano e Jane na Aldeia Rio Silveiras - Dez 2011 |
Três dias depois, num domingo, passeava com minha esposa no litoral norte quando resolvemos visitar a reserva indígena Rio Silveiras, dos Guaranis M’byas. Lá compramos artesanato, conversamos com as crianças e eu fiquei super curioso ao saber que estavam fazendo um ritual, ao qual obviamente não fora convidado, numa oca fechada – vi pelas frestas da entrada que tomavam uma bebida, perguntei se podia ver de perto e fui impedido – somente vim a participar de uma cauinágem dois anos depois, e hoje, quase dez anos depois, estou aqui, pronto a lançar o primeiro CAUIM comercial.
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Jornada de Proteção do Anjo Ismael em Tupi Antigo - Texto traduzido por alunos do Professor Eduardo Navarro
Ismael karaibebegûasu ’ytuberápe aîasuk, gûiîepoxy’oka.
Brasil rupikatu, ’ara rupikatu bé aîeekomonhang
Maria abá bykagûere’yma o asoîaboby pupé xe aso’i,
Opá mba’e rasy suí, opá ’angekoaipaba suí bé xe pysyrõmo
Îesu morombo’esara irũnamo tetamaŷsó rupi agûatá,
Tupã opakatu mba’e tetiruã monhanga e’ikatuba’e robaîtîamo ko’yté.
Tradução
Na cachoeira brilhante de Ismael, o grande anjo, eu me banho, tirando minha imundície (me banho e me purifico).
Muito em conformidade com o Brasil, muito em conformidade ao mundo
(me coloco em harmonia com o Brasil é com o mundo,)
A Virgem Maria me cobre com seu manto azul, me protegendo de todas dores e aflições;
Com Jesus, aquele que instrui pessoas, por terras formosas eu caminho, finalmente encontrando D'us, aquele que todas e quaisquer coisas consegue criar.
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Fecho esse artigo com a importante mensagem mediúnica que reafirma Ismael na liderança do projeto, psicografada pelo espírito de Manoel Miranda para mim:
“...o Cauim ratifica a missão específica de Ismael para com o Brasil, assinalada por Jesus, de implementar em nosso país o seu Evangelho e espalhá-lo daqui para o mundo.
Imerso nesse processo evolutivo, iniciado no momento de sua formação, primeiramente por indígenas, que nos brindaram com o conhecimento da terra, revelado pelo espírito da Mãe Mani Fértil, alimento de dois planos, a posteriori por africanos, povos sedentos da justiça divina, a expressão evoluída das aflições ao conceder o grande perdão e celebrar a grande amizade, e por fim pelo homem das múltiplas pátrias, que ora fez sofrer, por caminhos tortuosos e hora trouxe avanços do ciência, em meio a escravidão e a exploração desmedida.
Reserva Indígena Rio Silveiras Boraceia - SP |
Juntos, esses bravos povos se redimem, se unem e revelam a alma da terra, como semelhantes trabalham, cuidam da fauna, da flora e da própria luz natural, no árduo processo de labuta e autoavaliação, rumo a evolução de uma grande nação.
O Cauim surge nesse plano como importante instrumento evolutivo, para formação da alma coletiva do nosso povo, isento de diferenças – É a concretização do caminho espiritual planejado para o Brasil em seu primeiro estágio, pátria do Evangelho, onde o Ser Humano, em constante processo evolutivo, aprenderá pouco-a pouco, a respeitar o meio ambiente, em trabalho harmônico, também a dirimir diferenças.
O Cauim é a luz do coração, que brilha na essência do ser, que promove as mudanças do tesouro alvo da terra, da mente de D’us na alma dos homens...”.
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