Ao postular que a pós-escassez é um verdadeiro catalisador para a pacificação global, a prospenomia baseia-se na premissa de que a superação das limitações de recursos criará na humanidade a chamada "plasticidade de comportamento", diminuindo os instintos biológicos e evolutivos ao conflito humano, criando um ambiente propício para cooperação internacional e a promoção da paz e da prosperidade.
Ao reconhecer nossa herança biológica, compreendemos que a formação de clãs gera uma dinâmica de "nós contra eles" - bellum omnium contra omnes de Thomas Hobbes. A filosofia política de Hobbes, especialmente encapsulada nessa expressão (guerra de todos contra todos), é profundamente enraizada na visão de que os seres humanos possuem uma natureza belicosa e propensa ao conflito. Em sua obra seminal "Leviatã", Hobbes descreve um estado de natureza onde a ausência de um poder centralizador leva a uma competição feroz, onde cada indivíduo busca seus próprios interesses em detrimento dos outros.
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A metáfora do "Leviatã", uma figura monstruosa mencionada na Bíblia, representa a necessidade de uma força poderosa e centralizada para subjugar a natureza conflituosa dos seres humanos, com o propósito de evitar o caos e a anarquia inerentes à guerra de todos contra todos, é imperativo a emergência de uma autoridade soberana que seja mais forte e capaz de impor ordem sobre os indivíduos.
A concepção de Hobbes é intrinsecamente vinculada à ideia do "contrato social", ele propõe que, para escapar do estado de natureza caótico, os indivíduos concordam tacitamente em renunciar a parte de sua liberdade e poder a uma autoridade central em troca de segurança e ordem social. Esse acordo forma a base do contrato social, no qual os cidadãos abdicam de certos direitos em favor de uma autoridade soberana, criando assim um pacto que visa manter a paz e a estabilidade social.
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O "Leviatã" de Hobbes não é apenas uma figura temida, mas também um agente organizador social, que representa a autoridade do Estado, cujo poder coercitivo é necessário para manter os impulsos egoístas e beligerantes dos indivíduos sob controle. Poderia essa força estar enraizada na nossa própria consciência?
A Primeira Vez que Salvamos o Planeta
A camada de ozônio, uma estrutura atmosférica fina e crucial que se formou ao longo de eras antigas, moldada pelo delicado equilíbrio da vida desde a criação do planeta, desempenha um papel vital na absorção da maior parte da radiação ultravioleta prejudicial, protegendo a vida na Terra. Se não fosse por esta fina camada de proteção, a vida não seria possível na Terra.
Porém, o equilíbrio desse delicado escudo foi ameaçado quando, na década de 1950, os cientistas descobriram uma classe de substâncias, os clorofluorcarbonos (CFCs), que começaram a ser geradas e liberadas artificialmente pelo homem, amplamente utilizadas em produtos de consumo, como os aerossóis, elementos refrigerantes de geladeiras e sistemas de ar condicionado.
Na década de 1970, dois cientistas da Universidade da Califórnia Irvine, Mario Molina e Sherwood Rowland, perguntaram “o que acontece com as partículas de gás que são liberadas na atmosfera depois de vazarem do ar condicionado?” bem como “o que acontecerá com a enorme quantidade de gases liberados pelos foguetes no início da era da exploração espacial?”
Molina, em particular, questionava o destino das partículas de freon libertadas na atmosfera e o seu impacto na camada de ozono, quando fez uma descoberta aterrorizante - a camada de ozono que proporciona protecção contra a radiação ultravioleta prejudicial estava a ser dizimada pelos CFC.
Foi então que surgiu a consciência global sobre os danos causados pelos CFC e desencadeou uma campanha de mobilização sem precedentes. A constatação de que a destruição da camada de ozono poderia resultar numa catástrofe global, colocando em risco a vida na Terra, transcendendo fronteiras e diferenças culturais, o risco de uma catástrofe ambiental iminente impulsionou a cooperação internacional.
Em 1987, a comunidade global deu um passo significativo com a assinatura do Protocolo de Montreal, que não só foi assinado, mas também cumprido religiosamente por todos os habitantes humanos do planeta, independentemente da sua raça, cultura e orientação política.
Este acordo internacional visava reduzir e eliminar gradualmente a utilização de substâncias que destroem a camada de ozono, incluindo os CFC. A mobilização para reverter os danos causados à camada de ozônio tornou-se uma prioridade global, com a participação inédita de praticamente todos os países do mundo.
A bem-sucedida campanha de mobilização social resultou na eliminação progressiva dos CFCs, uma história notável de como a sensibilização, a ação coletiva e a cooperação internacional podem enfrentar os desafios mais complexos e significativos.
Como nos Mobilizaremos para a Prosperidade em um Mundo Tão Dividido
O livro "Choque de Civilizações", de Samuel Huntington, destaca a profunda divisão existente no mundo, alimentada por conflitos civilizacionais que nos separam uns dos outros. Essa fragmentação não apenas ameaça nossas vidas, mas coloca em risco a vida como um todo no planeta. Diante desse cenário, surge a pergunta crucial: como nos mobilizaremos para atingir a prosperidade em um mundo tão dividido?
O primatologista Robert Sapolsky, ao oferecer uma visão aprofundada das dinâmicas sociais humanas, destaca que os conflitos humanos têm raízes em fatores biológicos, como a química cerebral e padrões hormonais. Ele identifica quatro motivos sociais para beligerância: competição por recursos, seleção de grupos, estabelecimento de hierarquia social e rituais de reprodução. Essa análise minuciosa revela as forças subjacentes aos conflitos humanos, fornecendo insights cruciais.
Sapolsky destaca a plasticidade do comportamento humano, ressaltando que, embora existam predisposições biológicas para a agressão, o ambiente e as experiências de vida desempenham papéis cruciais na manifestação dessas predisposições. Ou seja, quanto mais o homem vive em um ambiente próspero, com alimentação adequada, território e proteção das intempéries, com uma vida sexual resolvida e ativa, entre amigos de confiança em vida social saudável, ele é capaz de eliminar todos os impulsos primatológicos de agressividade, parte de sua programação biológica original.
Essa compreensão complexa reforça a necessidade de uma abordagem holística ao lidar com questões de conflitos e cooperação, considerando múltiplos fatores.
Ao nos conscientizarmos dessas fraquezas, semelhante à mobilização social bem-sucedida contra o uso do CFC, podemos criar um caminho para a prosperidade mundial. Reconhecer e compreender as raízes biológicas dos conflitos humanos nos capacita a desenvolver estratégias que promovam a cooperação global, superando divisões e construindo um futuro mais próspero para toda a humanidade.
Más nos Conscientizamos de Nossa Natureza, Precisamos Adotar Atitudes Prospenômicas e Alcançar o Estágio de Pós-Escassez
À medida que a consciência de nossa natureza se aprofunda, torna-se evidente que a simples conscientização sobre nossa postura de bellum omnium contra omnes não é suficiente; é essencial adotar atitudes prospenômicas e alcançar o estágio de pós-escassez.
A prospenomia, fundamentada na premissa de que superar as limitações de recursos catalisa a pacificação global, conjugada a atitude de plasticidade do comportamento frente à consciência de nossa beligerância, reduzindo instintos biológicos e evolutivos que conduzem a conflitos e guerras, essa abordagem não apenas propicia um ambiente propício para a cooperação internacional, como também promove sentimentos de paz e prosperidade.
Samuel Huntington, em seu livro "Choque de Civilizações", aponta que o crescente desenvolvimento econômico no sudoeste asiático, ocorrido nos anos 1990, inicialmente trouxe otimismo para o mundo, alinhando-se à ideia de que em um planeta com uso mais eficiente dos recursos, a probabilidade de alcançar a paz e prosperidade aumenta, e o sentimento de animosidade e beligerância diminui.
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No entanto, lamentavelmente, o texto do livro indica que essa expectativa otimista não se concretizou conforme esperado. A razão para tal desfecho está relacionada a motivos sociais intrínsecos à nossa natureza humana, conforme discutido por Huntington em sua obra.
Rumo à Pós-Escassez e à Prosperidade Planetária
Analisar os equívocos econômicos que nos trouxeram à situação de hoje e corrigir nossas atitudes rumo a um planeta mais próspero é o que devemos fazer. Evitar erros do liberalismo, que falha em não distribuir riqueza, e do socialismo, que peca em não gerar riquezas para serem divididas, nos coloca no caminho para um planeta mais próspero e equitativo.
Valorizar e respeitar as civilizações pelo que são, estimulando a convivência pacífica rumo à prosperidade planetária, desempenhar bem o papel conquistado pelo Homo sapiens como protagonista do planeta, responsável pelo bem-estar da Terra e de todas as espécies em equilíbrio, garantindo uma evolução planetária plena e saudável. Este é o nosso papel.
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